“Se olho para essas lajes, vejo nelas gravadas as suas feições! Em cada nuvem, em cada árvore, na escuridão da noite, refletida de dia em cada objeto, por toda a parte eu vejo a tua imagem! Nos rostos mais vulgares dos homens e mulheres, até as minhas feições me enganam com a semelhança. O mundo inteiro é uma terrível testemunha de que um dia ela realmente existiu, e eu a perdi para sempre." O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Brönte.
Estava lendo meu livro favorito para o Matheus; deitados lado a lado na minha cama. Não importava quantas vezes eu lesse aquele livro, era sempre uma nova sensação. E o mesmo trecho que há algumas semanas tinha me feito apenas querer me livrar de pensar constantemente no Scott e de tê-lo sempre por perto me torturando, não me trouxe o mesmo desejo.
Todo dia eu pensava ver o Scott pela escola e até fora dela, em lugares que nunca o tinha visto antes. Voz de estranhos me confundiam com a dele. Gestos. Sons. Palavras.
Já permanecia me culpando incansavelmente. Odiando cada momento em que o afastei de mim. Odiando todo o medo idiota que tive de me entregar. Odiando cada vez em que vi seu coração despedaçar na minha frente por minha causa.
Parecia uma piada maldosa que eu, finalmente, fosse capaz de compreender tão bem as atitudes do Scott que antes pareciam as maiores ofensas. Conseguia entender todas as vezes em que ele fez tanta questão de me jogar na cara a minha falta de graça. Conseguia entender suas namoradas... Era tudo tão óbvio que fazia minha dor pior.
Não éramos tão diferentes como sempre pensei que fossemos. Fiz questão de prestar atenção em tudo o que nos deixava em mundos opostos, mas... Nossa diferença mesmo era o fato de que ele não fugia de seus sentimentos, enquanto era tudo o que eu fazia.
“Acho que já está bom de leitura por hoje...” Matheus disse, tirando o livro de minhas mãos. “Não sei como você pode dizer que seu livro favorito é esse...”
Se ele queria chamar a minha atenção, conseguiu. “Isso vindo de alguém que disse amar clássicos... Me explique essa lógica.”
“Sim, é um bom livro, mas não para ser o preferido de alguém... É uma história triste e cheia de maldades. Nem mesmo o amor deles eu diria ser bonito. Meus livros favoritos têm finais felizes e uma história de amor onde amor pode mesmo ser chamado de amor.”
“Vou fingir que não ouvi uma palavra. Depois vem com discurso sobre preconceitos.”
“Não é preconceito. Catherine e Heathcliff diziam se amar, mas o que eles fizeram por isso? Amor não são palavras jogadas no ar nem sentimento de posse. Ela egoísta e ele orgulhoso, não tem espaço para amor nisso.”
“Você que não conseguiu entendê-los. Mesmo com todos os seus defeitos eles amavam sim um ao outro. Acho que se amavam tanto que queriam poder viver num mundo onde pudessem se preocupar apenas um com o outro. Onde Catherine não tivesse tanto medo de se casar com o Heathcliff e onde Heathcliff não quisesse tanto atormentar Catherine pelas escolhas que ela fez. O que gosto nessa história é que mesmo com todos os seus defeitos e péssimas escolhas, não deixavam de se amar. Desde quando o amor faz algum sentido?”
Matheus me olhava seriamente, vendo claramente através das minhas palavras. Não Catherine e Heathcliff. Outros amantes separados por egoísmo, orgulho e escolhas.
“Desculpa, exagero quando os defendo.”
Ele me beijou. “Me sinto péssimo, Mari.”
“Por quê?”
“Ele era meu amigo... Eu não devia estar com você, foi uma ideia estúpida que tive. Não consigo nem te fazer parar de pensar nele.”
“Math, eu tenho livre arbítrio. Eu escolhi isso.”
“Escolha errada...”
Tirei a mão de seu rosto e o encarei. “Ei...”
“Isso não está dando certo, Mari... Não gostamos um do outro da forma que namorados se gostam. Não aguento mais essa culpa.”
“Math, não me deixa agora...” As palavras saíram da minha boca e me arrependi no minuto seguinte pelo meu egoísmo. “Você tem razão.”
Ele me olhou, calado por um longo segundo. “Não importa mais agora também.” Me puxou para seus braços. “Só me sinto culpado toda vez que te vejo triste. Não vou pra lugar nenhum enquanto você não quiser que eu vá.” Tirou minha cabeça de seu ombro e me beijou.
Seus beijos não eram nada como os do Scott e ainda assim não era capaz de evitar pensar nele. Eu não queria mais ser atormentada por todos os meus erros que me fizeram perder o Scott. Eu queria poder esquecer nem que fosse por um segundo.
Buscava com mais vontade os lábios do Matheus e era respondida com a mesma intensidade. Eu sabia que não estava certo, enquanto nada separava nossos corpos nus, eu só queria muito que estivesse tudo certo... ou que pelo menos pudesse ficar.
***
Perdi a minha virgindade com o Matheus e, em parte, nunca me arrependeria por isso.Nas noites seguintes passei a vislumbrar o poder que aqueles momentos tinham. Meus pensamentos deixavam de existir enquanto eu descobria sobre prazer com Matheus. E a cada noite o efeito parecia ainda melhor. Eu já mal pensava no Scott.
Matheus era tão bom pra mim e eu nunca tinha feito nada para merecer. Comecei a pensar mais sobre ele. Como devia ser para ele ver o Vítor cercando a Kate, ou fingir não saber o que ela fazia todas as noites.
Nunca tinha lhe perguntado sobre o seu motivo para não tentar com a Kate. Ele era sempre atencioso comigo e com sua generosidade gratuita, mesmo que eu fosse apenas quem eu era, egoísta e mimada. A vontade de ajudá-lo crescia estupidamente e eu tentava ignorar.
Não queria sentir o vazio enorme que me aguardava enquanto ele me deixasse para ficar com a Kate, mas já não podia mais ignorar a culpa que me esmagava pelo meu egoísmo. Ele podia até insistir em não querer tentar com a Kate, mas eu precisava estar preparada para uma despedida.
Ele merecia ser feliz mais do que qualquer pessoa que tenha conhecido. Foi com essa força de pensamento que interrompi nossos beijos numa noite.
“Math, precisamos conversar.”
Ele fez uma careta. “Acho que devo me preparar para o pior...”
Sorri. “Não é pra tanto. Só tenho me perguntado o que faz o garoto mais desejado do colégio comigo e não com quem é apaixonado.”
“Sério que quer conversar mesmo sobre isso?”
“Quero.”
Ele suspirou profundamente. “Eu e Kate não podemos ser felizes juntos.”
“E posso saber que lógica ou bola de cristal você usou para chegar nessa conclusão?”
Matheus não sorriu como esperei. “Kate não quer casar e ter uma família, Mari, e eu quero. Ela não quer se prender a ninguém. Me diz como isso poderia dar certo e eu vou agora mesmo procurar por ela...” Ele disse não esperando resposta.
“Math, pode mesmo não dar certo e a probabilidade é alta. Mas ainda é melhor que você tente e tenha esfregado na sua cara essa verdade, do que sempre ficar imaginando como seriam vocês dois juntos.” Como eu estive fazendo.
“Falar faz tudo parecer muito fácil...”
“Porque é. Acha que gosto de dizer pra você ir correr atrás de outra e me deixar sozinha aqui? Mas tem sido muito pior me corroer por dentro imaginando o quanto você poderia ser feliz se apenas se permitisse.” Eu dando conselhos... O mundo é mesmo cheio de surpresas.
Hoje eu estou sem palavras para dizer qualquer coisa sobre toda a situação.
ResponderExcluirAMO!
bjosmil! *.*
Mari perdeu a virgindade com o Matheus?? O.o Tudo bem q é normal acontecer quando tem namorado, ms pensei q ela pensava tanto no Scott q sei lá.... vc me confunde Suellen!!!!
ResponderExcluirBjos sua bruxa!!!
Eu to assimilando essa idéia da Mari ainda... G.G
ResponderExcluirNão sei o que dizer... '-'
Bjks!
Foi legal ela ter perdido com o Matheus,ele parece ser um bom rapaz, mas acho que seria melhor com alguém que ela amasse de verdade...
ResponderExcluirBeijos
Mita e Pah, também fiquei assim... .-.
ResponderExcluir-
Deh, Sei porque você ficou confusa, kkkkkkkkk.
Mas foi com o Matheus... .baba.
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Ah, isso sem dúvida, Vih.
Mas como ela mesma disse "em parte, nunca me arrependeria por isso", então... .-.
Ah, pode até não ter sido com o cara que ela amava, mas foi com outro muito especial a primeira vez da Mari e não dá pra culpá-la sendo o Matheus...
ResponderExcluirEu acho os dois bonitinhos juntos. Queria que passassem a se gostar realmente.
Beijo.
Né, Dindi! *w*
ResponderExcluirQuem sabe...
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