quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

30- Amor x Amor

 “Você vai com ela...” Meus músculos congelaram quando ele começou a me pedir perdão. Não conseguia tirar o Scott dos meus braços por mais que achasse que deveria.
Como ele podia dizer que queria a minha felicidade logo antes de dizer que me deixaria por outra? Eu queria falar para que ele fosse logo embora, mas não queria que ele fosse...
“Não entendo...”
“Ela precisa de mim...”
“Eu preciso de você!”
Levantei da cama e vi um Scott da qual não me orgulhava.
“Você tem tudo, Mari. Seus pais te amam e cuidam bem de você. Tem bons amigos pra confiar. Tem as melhores notas, vai conseguir passar na faculdade que quiser e ser o que quiser. Você tem uma personalidade forte e sabe se cuidar. Vai realizar todos os seus sonhos e vai ser muito feliz. Não vê isso? Você não precisa de mim.”
“O que isso tem a ver, Scott?! Eu te amo! Você... Fizemos planos! Por que você tem que ir atrás dela? Ela que quer ir embora. Isso não tem nada a ver!”
“Ela... Ela precisa de mim...”
“Você já disse isso! Seu mentiroso! Você que precisa dela, não é?! É você que não consegue ficar sem ela! Como sou burra!”
“Você não entende...”
“Claro que não! Me explica, Scott!”
“Se eu não for com ela... se algo acontecer com a Kate... Ela vai precisar de mim, de alguém...”
“Oh, meu Deus...” Era o mesmo que o Matheus sentia por ela. “Pelo menos assuma! Você a ama, Scott! Se vai embora, se vai me deixar, pelo menos seja sincero comigo e com você.”
“Eu amo a Kate, só não desse...”
“Não minta, por favor...”
“Mas eu te amo...” Ele estava confuso.
Percebi que já era noite. “Mas não o suficiente para ficar. Só espero que você tenha certeza do que está fazendo, Scott.”
Ele ficou em silêncio.
“Se você ama tanto assim a Kate é melhor você se apressar porque já anoiteceu.”
O que eu estava fazendo? Por que eu estava agindo daquela forma? Por que eu não o impedia? 
Scott se aproximou de mim e aquilo fez a minha dor maior. Era adeus...
“Me perdoa... Faço sempre tudo errado. Quem sabe um dia eu não consiga me tornar o cara que você me faz querer ser... Eu pediria pra você me esperar, se eu acreditasse que fosse voltar, se não fosse ainda mais egoísta, se fosse pra te fazer bem. Não sei como vou conseguir sem você... Não vou estar mais aqui pra cuidar de você, mas nunca nem foi preciso, né... Não deixe que eu esteja errado nisso, por favor.”
Ele me olhava esperando resposta, mas não consegui dizer adeus... não consegui dizer tudo o que não tinha dito; as últimas palavras.
Scott abaixou os olhos e enquanto ele passava pela porta do meu quarto eu o odiava tanto e a dor era tão sem medida que desejei que ele sumisse mais rapidamente. Quando tive meu desejo realizado passei a me odiar e como quis correr atrás dele me humilhando, implorando para que ele ficasse. 
Tapei minha boca com as mãos de forma exagerada, tentando abafar meu choro. Fui até a janela para vê-lo pela última vez. Scott andava apressado olhando para o chão. 
Que sentimento era aquele tão conturbado dentro de mim? Que me fazia sentir como se morrer fosse menos doloroso, que me fez deixá-lo partir sem lutar... 
Nunca jurei amor eterno... mas haveria o dia em que eu deixaria de amar Scott Meyer?
***
Consegui voltar a frequentar as aulas com a companhia do Matheus.
Era fácil estar com o Matheus, sempre foi. Ele era o que eu precisava quando eu precisava. E naquele momento ele era tão desprezível de tristeza quanto eu. Poder ser infeliz com ele diminuía a minha dor sem que eu percebesse; não era algo que precisasse fazer sentido.
Os dias passavam. Foi tudo tão rápido. Num dia eu estava me rendendo ao Scott, no outro ele sumiu com o meu mundo... e me peguei tão cedo, tão sem esperar, rindo de um trecho idiota de algum livro com o Matheus.
Da mesma forma que acreditei que estaria para sempre com o Scott e errei, também errei quando acreditei que fosse ser impossível ser feliz sem ele.
Não... Não era pra tanto. Eu não estava radiante de felicidade, mas...
Matheus tocou a minha mão, daquele jeito dele tão natural, deixando o sorriso ir embora e emendando outro assunto. “Tem coisas que acho que nunca vou entender não importa o quanto reflita.”
“Você não é o único.” Lamentei.
“Assim... O que fizemos de errado?”
“De verdade?” Eu mesma respondi. “Acho que nada.”
Matheus me olhou curioso.
“Seguimos o nosso coração. Quando tentamos manter distancia e quando nos entregamos também. Mas amar não dá pra ser sozinho. O coração quer o que o coração quer.” Comecei a repetir os clichês que conhecia tão bem. “Sei lá, Math... Também não entendo. Essas são as respostas que encontrei pra me conformar.”
Ele riu. “Sabe o que me consola?”
Minha vez de ser curiosa.
Ele ficou calado, pensativo.
“Ué, não vai me dizer?”
Ele riu de novo. “É... acho que me perdi um pouco agora. Ia dizer uma frase de efeito, aquela que todos dizem sobre a vida continuar, mas não é bem isso.”
“O quê, então?”
“Ah... um momento que nem esse. Simples, né? Mas me sinto até meio bobo por ter me afastado das coisas boas da vida ao ter perdido algo que nunca nem tive.”
“Ah... Eles devem estar bem, né?!”
“Imagino que sim.”
“Vai ter algum dia em que vou pensar nisso sem querer socá-los com muita força?” Suspirei com um sorriso triste.
“Acho que vamos descobrir juntos...”
“É...”
“Ei, olha isso aqui também!” Matheus já soltava gargalhadas novamente com um dedo apontando para outra parte do livro.
Perguntava-me como estaria o Scott, mas no meu coração eu sabia que estava bem. Foi esse idiota que me ensinou lições que mudaram a minha maneira de ver a vida. Acho que nunca conseguiria ser como ele e encarar tudo sem medo de me arriscar, mas também nunca voltaria a ser aquela Mariana que temia tanto a vida.
O amor... bem, está aí o que existe de mais incerto e assustador, talvez por isso mesmo só ele seja capaz de nos transformar.
Eu que sempre fui tão certa de tudo não poderia ter sido mais errada. Mas como o Matheus ia dizendo “A vida continua”, e quem pode saber as lições que o amor ainda me trará...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

29- Dor x Dor

“Acho que sim...” Disse menos tonta.
Ele sorriu. “Te amo.” Me deu um beijo rápido e me levou apressado.
A porta da casa se bateu.
Tinha outra porta além da que ligava o quarto ao restante da casa, uma que dava para a rua e que estava protegida com uns pedaços pregados de madeira. Meus amigos tinham conseguido liberar a passagem e foi por ali que saímos sem olhar para trás.
Matheus pegou a Colli do colo da Kate. “Sou mais rápido e assim você consegue correr mais.”
Eles saíram correndo por um lado da rua escura.
Não ouvi a chave destrancando a fechadura tampouco o som da porta daquele quarto se abrindo. Só o barulho de quando ela se bateu com força, fazendo a estrutura das paredes tremerem, que me atingiu. 
Scott me puxou com força me obrigando a correr com ele também. A chuva atrapalhava a visão e atrasava nossos passos em milésimos preciosos. Era difícil saber a que distância Ákyl corria atrás de nós, porque o silêncio da chuva era o mais barulhento de todos, tudo cantava em diversas proporções e era impossível encontrar o som dos passos do nosso ex-diretor quando tudo em que eu conseguia me concentrar era correr ainda mais.
Pensei que o Scott tinha tropeçado em algo quando seu corpo mudou de ritmo e despencou na minha frente. Ákyl tinha acabado de acertar um tiro no meu amor... Scott nunca pareceu tão assustado como naquele momento. O outro tiro foi em mim, logo em seguida, e caí com o Scott no chão.
A chuva pareceu mais fria. Scott permanecia com os olhos abertos, mas duvido que ele ainda estivesse vendo alguma coisa. Perdi os sentidos e desmaiei.
Numa rua perto dali, Kate e Matheus também corriam sem saber mais do que até que ouviram o disparo. Kate saiu como louca na direção do som, Matheus tentou impedir, mas foi em vão. Ele não foi com ela, porque carregava a pequena Colli em seus braços e ele precisava protegê-la.
Matheus encontrou um carro policial perto dali e conseguiram chegar até onde nós estávamos antes que o Ákyl tirasse a vida da Kate que já estava também seriamente ferida no chão.
Finalmente Ákyl pagaria por seus crimes.
Mas não só ele tinha contas a pagar...
***
Fiquei por tempo demais encarando aquele livro diante de mim, com a mente distante, remoendo tudo o que não poderia mais ter conserto.
Matheus pediu licença à moça e me puxou para as estantes enormes de livro.
“Não sei mais se fazem por bem ou por mal.” Comentou brevemente. “Cadê você, meu filho...” Matheus falava com os livros e conseguiu me arrancar uma risada que ele acompanhou, mas tão sem querer como veio se foi. Não era certo sorrir.
“Qual é o nome? Assim posso te ajudar.”
“Não consigo lembrar direito, só vendo pra saber...”
Eu não estava contente, a tristeza ainda estava ali, mas era bom ter comigo alguém que também estivesse triste. Ser triste sozinho era ainda mais triste.
***
Tivemos alta todos juntos. 
Naquele dia fingi ir para a escola quando na verdade fui com o Scott até a casa da Kate, ali mesmo em Almerim. 
Encontramos Matheus com olhos vermelhos acarinhando a Colli que dormia em seu colo no sofá da sala. 
“Cadê a Kate?” Scott perguntou quando não a viu também na sala, ignorando o estado do nosso amigo.
Scott não conhecia o Matheus como eu conhecia. Deve ter acreditado que aquelas lágrimas eram por tudo que tínhamos passado, mas eu podia dizer com certeza que não. Era outra dor, uma que nem mesmo a face serena adormecida da pequena Colli conseguiu confortar.
“Na copa.”
Quando Scott passou na minha frente para ir à cozinha eu previ que a mesma aflição do meu amigo atingiria a todos nós... e nem cheguei perto de estar certa.
Kate estava sentada numa das cadeiras ao redor de uma pequena mesa redonda, cotovelos na mesa, mãos apoiando seu rosto. Ela já nos esperava.
Só então Scott notou que tinha algo acontecendo. “Que houve, Kate?”
“Eu e a Colli vamos embora.” Kate disse sem rodeios.
Um comprido segundo silencioso.
“Embora?”
“Ainda não sei ao certo pra que lugar, qualquer um distante. Tenho alguém vendo isso pra mim.”
“Você está querendo dizer...”
Kate o interrompeu. “Exatamente o que eu disse.”
Scott atravessou para perto da Kate pegou um dos seus braços e ordenou. “Vocês não vão embora!”
Ela passou segundos eternos o encarando quando uma lágrima desceu. Scott chegou a tocar seu rosto para enxugar, mas Kate esquivou o rosto e voltou seus olhos para mim que até então tinha sido apenas plateia. Ele também me olhou e, como se tivesse cometido um crime, se afastou rapidamente da Kate. Minha presença tinha sido completamente esquecida.
Nada foi dito enquanto os dois me encaravam. Ninguém podia fugir daquela verdade que insistia tanto em querer ser aceita. 
Scott ainda olhava dentro dos meus olhos quando começou a dizer. “Você vai precisar de seus amigos...”
“Até o final do dia já estará tudo arrumado e partirei.”
Matheus estava numa tristeza sem fim, mas ele nunca iria para tão longe, deixando tudo para trás, para ir com a Kate. Então, de alguma forma, ele aceitou a sua sentença.
Por outro lado, Scott não tinha limites... ele não sabia ser contrariado. Passou o resto da manhã e parte da tarde remoendo aquele assunto. 
Por mais que eu o amasse eu nunca diria para que ele fosse, eu só não imaginava que não dependia de mim...
Ainda não tinha anoitecido quando ele foi até o meu quarto.
Sentou-se ao meu lado na beirada da cama, pegou uma das minhas mãos e olhou dentro dos meus olhos. A sua expressão era devastadora. Passou uma mão por meu rosto.
Eu queria que ele me dissesse de uma vez, mas não consegui encontrar minha voz.
“Eu te amo...” Ele disse, mas tinha algo diferente dessa vez. “Você entende o que isso significa?”
Esperei que ele continuasse.
“Significa que desejo o seu bem acima de qualquer coisa. Significa que quero a sua felicidade... o melhor para você. Consegue entender isso?”
“É o que também sinto por você...”
Pensei ter visto seus olhos marejarem e isso me deixou ainda mais aflita. “Fala, Scott...”
“Tem algo que eu não posso deixar de fazer e você vai me odiar por isso.” Ele apertou com mais força a minha mão, olhou para o outro lado e pensei que ele fosse morrer pela forma em que inspirava e expirava ar.
Coloquei meus braços ao seu redor. “Calma, amor...” Alisei suas costas. “O que está acontecendo, Scott? O que você vai fazer?”
Ele começou a soluçar no meu peito.
Foi quando eu entendi. 

28- Silêncio x Barulho

Chuva e frio... 
Foram longos dias assim.
Scott... 
Eu ainda esperava acordar e descobrir que tinha sido tudo um pesadelo.
***
Acordei numa cama de hospital. Não tinha ninguém comigo, nenhuma explicação, nenhuma notícia. Mas de alguma forma eu já sabia, só não queria acreditar que aquela dor no meu coração tivesse razão.
Quando meus pais passaram pela porta do quarto onde eu estava, eles choravam como crianças. Um doutor jovem os acompanhou, me examinou rapidamente e disse que eu estava bem. 
Um calafrio percorreu meu corpo. Eu reconheci aquele hospital. Foi onde há pouco tempo meus amigos também estiveram internados. 
“Me digam, por favor...” Esperava ansiosa por saber do Scott.
Quando meus pais trocaram olhares e pegaram na minha mão senti o mundo ficar distante. Eles abriam a boca, mas eu não os ouvia. Apaguei.
***
Eu deveria estar em sala de aula, mas tinha feito como todos os dias anteriores e ficado trancada no meu quarto. Olhei irritada pela janela o céu cinza e a chuva que insistia em cair.
Scott...
Fechei a cortina e voltei para debaixo das cobertas.
***
“Consegue se lembrar de tudo o que aconteceu?” O doutor me perguntou.
O olhar vazio do Scott me atingiu.
“Não precisa forçar, descanse um pouco mais. Depois conversamos, prometo.”
“Só me diz... Scott Meyer... como ele está?”
***
Já tinha perdido a noção dos dias quando minha mãe bateu na porta do meu quarto e entrou.
“Filha...”
Continue imóvel e muda, qualquer esforço parecia demasiado e completamente desnecessário.
Ela sentou-se na ponta da cama. Eu queria ficar sozinha novamente. Não queria ser consolada... eu queria sofrer até que não fosse mais possível.
“Mari... querida.” Alisou um dos meus pés por cima da coberta. “Eu e seu pai decidimos comprar uma casa lá pra perto de onde sua avó mora. Não é na mesma cidade, mas é uma cidade vizinha. Cercado por verde, você vai amar. Só vai levar mais um pouquinho de tempo para a mudança, porque ainda vai precisar de uma reforma, mas isso é o de menos. Vi um colégio pra você por lá... não é nada comparado com o Elite, mas também tem uma biblioteca que você vai amar.”
Não queria deixar Almerim.
“Está chorando, filha? Não gostou? Nós podemos ver outro lugar, se for o caso...”
Não tenho certeza, mas acho que disse repetidas vezes “Almerim” enquanto chorava caindo no mundo dos que - supostamente - sonham.
***
Tive medo de me recordar de detalhes do ocorrido e quando vi uma turma do colégio se aproximando do meu leito no hospital todos com capa preta, tão... Tive muito mais medo.
***
Minha mãe aceitou deixar de lado a ideia de nos mudarmos de Almerim com uma condição: que eu deixasse de ficar trancada em meu quarto. Não era nada justo, porque eu não sabia sequer como conseguiria passar pela porta de casa e encarar aquelas mesmas ruas... agora tão vazias dele. Mas ir pra qualquer lugar que não fosse ali me assustava muito mais.
Pensei no único lugar em que jamais estive com o Scott em Almerim. O único lugar onde eu poderia deixar o tempo passar sem grandes traumas até poder voltar para casa deixando a minha mãe convencida de que eu estava melhorando.
Comecei com passadas tímidas pelo caminho, mas em cada centímetro daquelas ruas eu me via com o Scott. Corri e acelerei mais e mais até que já sem fôlego cheguei à livraria repleta dos meus preciosos clássicos da literatura.
Passei pela porta e todos me encaram. Os rostos conhecidos me incomodaram. Eles sabiam demais.
“É ela mesmo?” Ouvi alguém perguntar.
Eu não sabia mais como parecia, mas a julgar por como me sentia...
Mais a diante reconheci o rapaz estirado num sofázinho com um livro na mão, tão concentrado em sua leitura. Há quanto tempo que eu não o via? Sua aparência tão cansada, tinha envelhecido anos em dias.
Pensei em correr depressa para algum canto.
A porta se abriu fazendo uma corrente de ar congelante passar por ela. Estremeci.
Matheus desviou seus olhos do livro e me viu. A dor em seu olhar veio logo após a surpresa. Eu não queria chorar, mas, já sentindo uma lágrima descendo, fui até ele.
Nem no meio de tantos livros fui capaz de escapar da dura verdade que uma ausência repetia infinitas vezes...
Matheus se levantou e me deu um longo abraço. Um abraço que dizia tudo o que não conseguíamos.
“Tem um livro que sei que você vai gostar...” Matheus disse assim que nos apartamos dos braços um do outro.
Ele pegou a minha mão e estava para me guiar quando senti alguém tocar meu ombro. Era um dos rostos desconhecido que me estendeu um livro.
Aprenda a superar a dor da ausência
Cruel. Não tinha como fingir. Eles tinham partido. Pra sempre.
***
Scott acertou em suspeita de onde o Ákyl deveria ter ido com a Colli. A prova disso foi ao chegarmos e termos sido surpreendidos com pancadas fortes contra nossas cabeças. Apagamos. Fui a última a acordar.
O lugar era horrível, com um cheiro forte de madeira pobre. Ainda estava tentando coordenar os pensamentos em minha mente. Que lugar era aquele? Foi a minha primeira pergunta e antes que eu pudesse fazer mais alguma - que também não saberia a resposta – Scott tocou meus pulsos, afrouxando a corda que os prendia.
“Shi. É a nossa chance de escapar agora. Tenta não fazer barulho...” Scott sussurrava, mas não fazia sentido. Nada fazia.
Escapar daquele lugar. Eu sentia medo, mas a minha mente era um branco, cada vez mais distante de qualquer razão.
“Vem, Mari...” Scott me apoiava em seus ombros. “Consegue ficar em pé, amor?”
Enxerguei algo atrás dele e precisei me concentrar um pouco para perceber que era a Kate, a Colli e o Matheus.
“Então vamos...” Scott ameaçou me guiar com paciência, mas um som de motor de carro o deixou em pânico.
“O que está acontecendo?” Perguntei aflita. Era o carro do Ákyl que tinha se ausentado por pouco tempo; soube depois. 
Ele colocou suas mãos ao redor do meu rosto, seu olhar... “Vou tirar você daqui. Só preciso que corra, você consegue?”