domingo, 16 de outubro de 2011

23- Luzes x Sombras

“Gostou?” Ele perguntou.
“Como você...?”
“Venha.” Ele abriu a porta do carro.
Do lado de fora do carro consegui perceber que as luzes brilhantes na varanda da casa e pela pequena trilha eram velas.
“Scott, isso é lindo.”
“Sabia que ia gostar.”
“Que lugar é esse?”
“Um presentinho dos meus pais.”
Olhei incrédula.
“Vem, vamos entrar. Tem mais.”
Pegou minha mão e me guiou até o interior. Mais algumas velas iluminavam a casa por dentro. Paramos diante de uma mesa de jantar.
“Me dê crédito por ter encomendado uma comida deliciosa... Achei melhor não te fazer de cobaia dos meus dotes culinários ainda.”
O jantar foi um sonho.
O relógio pregado na parede me mostrando o tempo passar tão rápido me fez lamentar.
“Precisamos voltar, Scott.”
Ele não acompanhou meu olhar para o relógio. “Só se você quiser.”
“E se a Direção não fechar as portas do dormitório às dez.”
“Ou se eu te disser que não vamos ter problema algum com a direção, se passarmos a noite aqui.”
Passar a noite com o Scott... Como ele conseguia fazer um convite tão explícito com aquela cara de tranquilidade? Gelei dos pés à cabeça.
Ele percebeu e me deu o golpe mortal abrindo seu sorriso irresistível.
“Tudo bem. Vamos.”
Eu esperava por insistência, mais argumentos... ou, ao menos, um pedido. Como ele sempre agia; quando Scott Meyer não conseguia o queria? Eu era a prova viva que sua insistência o levava longe. Minha frustração era por minha vontade louca de não voltar para o dormitório.
“Como assim não teríamos problemas não voltando?” Perguntei sem encará-lo, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
“Da mesma forma que não temos nos encontrando no depósito.”
“Ah...”
“Quer arriscar?” Ele perguntou depois de um tempo, já com a mão na maçaneta da porta.
Por que diabos ele não estava agindo como sempre? Sem pedir minha opinião. Sem dar pouco caso ao que sugere.
Eu me vi sem controle, jogando meu corpo sobre o dele. Meu desejo era tão grande... Se ele não estivesse já abrindo a porta, o que eu teria feito? E a minha maldita virgindade já perdida? Talvez fosse melhor assim, apenas ir dormir.
Scott que já tinha aberto um pedaço da porta a fechou abruptamente. “Droga!” Olhei para seu rosto, ele me fitava impaciente. “Você não quer ir. Por que não diz?” Puxou-me para si pela cintura. Enquanto alisava meus cabelos com uma das mãos, seu sorriso tomava o lugar do aborrecimento. “Você é perfeita...” Disse baixo antes de me beijar.
Quando ele começou a tirar a minha primeira peça de roupa eu sabia que não podia mais adiar contar a ele a verdade sobre o que aconteceu em sua ausência. Prendi sua cabeça entre minhas mãos, seu rosto... Eu vi a coisa mais louca da minha vida; tão além do Scott, dentro de mim. Meu amor por ele não era algo que eu pudesse arrancar do meu coração; não estava de passagem. Era parte de mim, tal como cada parte do meu corpo, da minha alma. Eu nunca deixaria de amá-lo. Nunca deixaria de sentir como se o mundo fosse acabar só em pensar em perdê-lo. O que ele quisesse de mim ele já possuía. Eu faria qualquer coisa... sim, qualquer coisa por ele.
“Mari...” Ele sussurrou. Só então notei a sua expressão profunda. “Eu te amo tanto...” Repousou seu rosto no meu ombro.
Não sabia o que estava acontecendo comigo quando as lágrimas começaram a cair. Eu não podia deixar de contar-lhe a verdade, mas se eu contasse...
“Eu não sou mais virgem.” Disse de uma vez, antes que desistisse.
Demorou uma fração de segundo eterna antes que ele levantasse o rosto do meu ombro e me olhasse nos olhos. “O que você disse?”
Não consegui sustentar o olhar e encarei minhas próprias mãos. “Não sou mais virgem.”
“Matheus?” Perguntou-me quebrando o silêncio.
“Foi.”
Ouvi quando Scott inalou profundamente ar e, logo em seguida, levantou impaciente. Passou uma mão pela boca e encontrou meus olhos.
Quis mais do que nunca voltar atrás, não há poucos minutos quando contei o meu feito ao Scott, também não até quando me entreguei ao Matheus, muito antes disso tudo... Para quando era tudo bem menos complicado e onde tudo que nos mantinha separados era o meu não. Faria o meu medo cair em sono pesado e diria mil vezes sim para o Scott.
E ali, de frente para um Scott desiludido, eu podia sentir a sua dor no meu peito somada com a minha própria. Esse seria o nosso adeus? Tinham sido aqueles nossos últimos beijos? Nunca mais sentiria seu coração batendo forte contra o meu?
Minha respiração estava desordenada; sentia o ar faltar. Tentava a todo o custo não parecer tão desesperada em sua frente. Não queria que ele me odiasse ainda mais.
“Você me disse várias vezes que eu brincava com seus sentimentos. Engraçado. Muito engraçado.”
Scott meneou a cabeça e seguiu para a porta.
Meu orgulho ainda gritava dentro do meu peito que eu ignorasse tudo aquilo, que se ele me amasse ele encontraria uma forma de me perdoar e me compreender. Que seria melhor assim, sem ele. As coisas voltariam aos seus lugares aos poucos e mais pra frente eu poderia agradecer por esse dia.
Ignorei todas as vozes que gritavam dentro de mim. Eu sabia que sobreviveria sem o Scott, sabia que mundo não iria parar e que um dia eu estaria bem novamente. Mas o que eu não sabia e desejava ardentemente saber era como seria a minha vida com ele. E que se eu não tentasse tudo por isso eu jamais poderia me perdoar.
Corri até a porta antes que ele conseguisse tocar a maçaneta e me pus entre os dois.
“Sai... por favor.” Pediu.
Eu não sabia o que dizer ou o que fazer.
“Não quero te tratar mal.”
“Se for esse o seu preço para ficar...”
Suas sobrancelhas se uniram. “Vou pelos fundos.” Virou as costas já andando.
Agarrei uma ponta da sua camisa. “Não, Scott. Por favor, não vá.”
Ele parou.
“Eu não sei o que fazer, mas não posso te perder.” Confessei.
Virou-se. “Eu não te entendo, Mariana...” Scott chorava. “É ele que você ama?”
“Não!”
“Então, por quê?... Por que me odeia tanto? Porque insiste em me castigar? Por que faz isso comigo se tudo o que eu quis foi te amar? Só queria poder te amar...” Segurou meu rosto e deixou-se cair no chão apoiado em minhas pernas. “Agora você diz que me ama, mas não entendo... Me deixe ir, por favor... Sai do meu coração, que já nem me reconheço mais.”