“Não... Por que pensou isso?”
“Não... é que... vocês não estão mais com a gente nos intervalos e sei lá... Passou pela minha cabeça essa possibilidade.”
“Ah... É...” Eu não podia dizer a verdade, podia?
“Escuta, Mariana, eu estava irritada quando te disse aquelas coisas, então não guarde nada daquilo.”
“O quê?”
“Quando você foi lá em casa...”
“Ah... Tudo bem, você estava certa mesmo.”
Silêncio.
Kate se acomodou em sua cama. “Você o ama?” Não precisava dizer que era o Scott.
Silêncio.
Fiquei surpresa com o poder daquela pergunta. O frio pelo meu corpo, o calor nos meus olhos.
“Amo...”
“Então, por que não tenta ligar pra ele?”
Porque essa ideia simples não tinha passado pela minha cabeça até então, pra começar. “Nem tenho mais seu número e... por que ele me atenderia? O que eu posso dizer por telefone?”
“Você nunca vai saber se não ligar.”
“Mas se ele saiu mesmo por minha causa...”
“Então te pergunto novamente, Mariana. Você ama o Scott?”
Olhei para ela e sua expressão era serena. “Vou anotar pra você o número dele.” Levantou-se e rabiscou um pedaço de papel. “Vou deixar aqui em cima da mesa, aí você pensa direito no que te perguntei e na sua resposta. Faça a sua escolha guiada nisso e em nada mais. É tudo o que eu posso fazer por você... E por ele.”
Saiu do quarto.
Por que ela insistia tanto em nos ajudar? Eu nunca teria feito um terço... Talvez fosse isso que tivesse feito um rapaz como o Matheus ficar tão apaixonado por ela, apesar de tudo. E quem sabe eu não pudesse retribuir? Isso... A ideia de dever alguma coisa a Kate era desagradável. Como Kate conseguiu abrir mão do Scott se ela se importava tanto com ele? Queria conseguir ser assim.
Encarei o pedaço de papel sobre a mesa. Eu só precisava discar, certo? Mas, então, achei que fosse hora de ponderar. Afinal, eu tinha desejado por tanto tempo que o Scott sumisse de minha vida, porque ele bagunçava tudo. Eu tinha conseguido. Talvez eu devesse apenas esperar a dor passar e seguir em frente. Ele sempre é tão rebelde e encrenqueiro... Como eu poderia viver com alguém assim? Muito problemático. Eu o amaria o suficiente para arriscar? Eu realmente o amava? Um amor que pode sobreviver a tudo? Se é que isso existe...
Peguei o papel. Meu celular vibrou e saltei com o susto. Era a Sally.
“Mari!” Cantou.
“Oi, maluca!”
“Hoje é sexta-feira. Festa de pijama. Eu, você e a Min na casa dela. Agora.”
“Ela sabe disso?” Se tratando de Sally...
“Acabou de ficar sabendo. Já estou terminando de me arrumar e passo aí pra gente ir juntas.”
“Ok.”
Abri a gavetinha da mesa e joguei o papel, com o número do Scott, dentro.
***
“Olha o que eu trouxe pra nossa pequena festinha?” Sally puxou da mala uma garrafa de bebida. E eu me perguntando pra que uma mala pra passar uma noite fora, o que mais teria?“O que houve com nossas festas de pijamas com pipoca e filme até tarde?” Yasmin.
“Aconteceu que estou precisando de menos drama e mais ação.” Sally.
“Ótimo! Pode encher um copo, então, porque também estou precisando.”
As duas me olharam surpresas.
“Ela bebeu no caminho?” Yasmin.
“Ainda estou procurando pelo sarcasmo, mas melhor aproveitar que ela já entrou no ritmo.” Sally.
Ri. “Então, como vai ser?”
“Música, bebida e verdade ou consequência, mas esqueçam as consequências de quando eram crianças...”
“Perfeito.”
“Se até a Mari topou...” Yasmin.
***
“Não acredito! Ela agarrou o cara mesmo!” Sally dizia entusiasmada com o meu feito recente na boate.“Desafio cumprido.”
“Ele ainda está olhando pra cá.” Yasmin.
“Sua vez, Ly.”
“Também quero uma consequência legal!” Acho que nós duas competíamos o título de mais bêbada e louca.
“Te desafio a...” Olhei ao redor. “Aqui não dá.” Olhei para elas de volta. “Não sabem de nenhuma festa do pessoal da escola?”
“Agora você realmente me assustou.” Yasmin era a única sóbria. “Sabem que não vou fazer nada dessas maluquices, né?”
“Relaxa, Min...” Joguei meus braços nos seus ombros. “Pode deixar que eu e a Sally nos divertimos por você. Não é, Ly?!”
Sally imitou meu gesto do outro lado da Yasmin. “Sei de alguém que pode nos ajudar...”
***
“Caraca! Vocês estão muito doidonas!” Kate ria.“Tem certeza que não tem problema?” Yasmin.
“O quê? Vocês? A festa não é minha, mas quanto mais gente mais diversão... Então... Só venham comigo.”
“Kate é tão legal, né? Quero ser que nem ela quando crescer...” Eu realmente disse.
“É... Será que a gente consegue essa cor de cabelo?” Sally.
Kate gargalhava. “Yasmin, que droga elas tomaram?”
Yasmin riu. “Deve ser a combinação da loucura natural, porque nem beberam tanto assim... Eu acho...”
“Kate, quer brincar com a gente?” Sally perguntou.
“De...?” Kate.
“Verdade ou consequência.”
“Está mais pra consequência e consequência, Kate.” Yasmin corrigiu.
“Desafio é o mais legal...”
“Por que não? Então, qual é o meu desafio?” Kate.
“Você e a Sally...”
***
Estava tudo laranja quando abri os olhos. Levei um tempo até me dar conta de que era o cabelo da Kate. Estávamos todas na casa da Yasmin, espalhadas no tapete da sala.As dores na cabeça e no estômago foram como um déjà vu. Mas o susto maior veio quando resolvi olhar com mais atenção ao redor. Matheus e o Vítor estavam entre a gente. Todos nós somente com roupas de baixo e a casa parecia uma zona com garrafas vazias pelos cantos.
Há algum tempo essa visão teria me desesperado, mas, naquele momento, levantei sorrindo.