quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

30- Amor x Amor

 “Você vai com ela...” Meus músculos congelaram quando ele começou a me pedir perdão. Não conseguia tirar o Scott dos meus braços por mais que achasse que deveria.
Como ele podia dizer que queria a minha felicidade logo antes de dizer que me deixaria por outra? Eu queria falar para que ele fosse logo embora, mas não queria que ele fosse...
“Não entendo...”
“Ela precisa de mim...”
“Eu preciso de você!”
Levantei da cama e vi um Scott da qual não me orgulhava.
“Você tem tudo, Mari. Seus pais te amam e cuidam bem de você. Tem bons amigos pra confiar. Tem as melhores notas, vai conseguir passar na faculdade que quiser e ser o que quiser. Você tem uma personalidade forte e sabe se cuidar. Vai realizar todos os seus sonhos e vai ser muito feliz. Não vê isso? Você não precisa de mim.”
“O que isso tem a ver, Scott?! Eu te amo! Você... Fizemos planos! Por que você tem que ir atrás dela? Ela que quer ir embora. Isso não tem nada a ver!”
“Ela... Ela precisa de mim...”
“Você já disse isso! Seu mentiroso! Você que precisa dela, não é?! É você que não consegue ficar sem ela! Como sou burra!”
“Você não entende...”
“Claro que não! Me explica, Scott!”
“Se eu não for com ela... se algo acontecer com a Kate... Ela vai precisar de mim, de alguém...”
“Oh, meu Deus...” Era o mesmo que o Matheus sentia por ela. “Pelo menos assuma! Você a ama, Scott! Se vai embora, se vai me deixar, pelo menos seja sincero comigo e com você.”
“Eu amo a Kate, só não desse...”
“Não minta, por favor...”
“Mas eu te amo...” Ele estava confuso.
Percebi que já era noite. “Mas não o suficiente para ficar. Só espero que você tenha certeza do que está fazendo, Scott.”
Ele ficou em silêncio.
“Se você ama tanto assim a Kate é melhor você se apressar porque já anoiteceu.”
O que eu estava fazendo? Por que eu estava agindo daquela forma? Por que eu não o impedia? 
Scott se aproximou de mim e aquilo fez a minha dor maior. Era adeus...
“Me perdoa... Faço sempre tudo errado. Quem sabe um dia eu não consiga me tornar o cara que você me faz querer ser... Eu pediria pra você me esperar, se eu acreditasse que fosse voltar, se não fosse ainda mais egoísta, se fosse pra te fazer bem. Não sei como vou conseguir sem você... Não vou estar mais aqui pra cuidar de você, mas nunca nem foi preciso, né... Não deixe que eu esteja errado nisso, por favor.”
Ele me olhava esperando resposta, mas não consegui dizer adeus... não consegui dizer tudo o que não tinha dito; as últimas palavras.
Scott abaixou os olhos e enquanto ele passava pela porta do meu quarto eu o odiava tanto e a dor era tão sem medida que desejei que ele sumisse mais rapidamente. Quando tive meu desejo realizado passei a me odiar e como quis correr atrás dele me humilhando, implorando para que ele ficasse. 
Tapei minha boca com as mãos de forma exagerada, tentando abafar meu choro. Fui até a janela para vê-lo pela última vez. Scott andava apressado olhando para o chão. 
Que sentimento era aquele tão conturbado dentro de mim? Que me fazia sentir como se morrer fosse menos doloroso, que me fez deixá-lo partir sem lutar... 
Nunca jurei amor eterno... mas haveria o dia em que eu deixaria de amar Scott Meyer?
***
Consegui voltar a frequentar as aulas com a companhia do Matheus.
Era fácil estar com o Matheus, sempre foi. Ele era o que eu precisava quando eu precisava. E naquele momento ele era tão desprezível de tristeza quanto eu. Poder ser infeliz com ele diminuía a minha dor sem que eu percebesse; não era algo que precisasse fazer sentido.
Os dias passavam. Foi tudo tão rápido. Num dia eu estava me rendendo ao Scott, no outro ele sumiu com o meu mundo... e me peguei tão cedo, tão sem esperar, rindo de um trecho idiota de algum livro com o Matheus.
Da mesma forma que acreditei que estaria para sempre com o Scott e errei, também errei quando acreditei que fosse ser impossível ser feliz sem ele.
Não... Não era pra tanto. Eu não estava radiante de felicidade, mas...
Matheus tocou a minha mão, daquele jeito dele tão natural, deixando o sorriso ir embora e emendando outro assunto. “Tem coisas que acho que nunca vou entender não importa o quanto reflita.”
“Você não é o único.” Lamentei.
“Assim... O que fizemos de errado?”
“De verdade?” Eu mesma respondi. “Acho que nada.”
Matheus me olhou curioso.
“Seguimos o nosso coração. Quando tentamos manter distancia e quando nos entregamos também. Mas amar não dá pra ser sozinho. O coração quer o que o coração quer.” Comecei a repetir os clichês que conhecia tão bem. “Sei lá, Math... Também não entendo. Essas são as respostas que encontrei pra me conformar.”
Ele riu. “Sabe o que me consola?”
Minha vez de ser curiosa.
Ele ficou calado, pensativo.
“Ué, não vai me dizer?”
Ele riu de novo. “É... acho que me perdi um pouco agora. Ia dizer uma frase de efeito, aquela que todos dizem sobre a vida continuar, mas não é bem isso.”
“O quê, então?”
“Ah... um momento que nem esse. Simples, né? Mas me sinto até meio bobo por ter me afastado das coisas boas da vida ao ter perdido algo que nunca nem tive.”
“Ah... Eles devem estar bem, né?!”
“Imagino que sim.”
“Vai ter algum dia em que vou pensar nisso sem querer socá-los com muita força?” Suspirei com um sorriso triste.
“Acho que vamos descobrir juntos...”
“É...”
“Ei, olha isso aqui também!” Matheus já soltava gargalhadas novamente com um dedo apontando para outra parte do livro.
Perguntava-me como estaria o Scott, mas no meu coração eu sabia que estava bem. Foi esse idiota que me ensinou lições que mudaram a minha maneira de ver a vida. Acho que nunca conseguiria ser como ele e encarar tudo sem medo de me arriscar, mas também nunca voltaria a ser aquela Mariana que temia tanto a vida.
O amor... bem, está aí o que existe de mais incerto e assustador, talvez por isso mesmo só ele seja capaz de nos transformar.
Eu que sempre fui tão certa de tudo não poderia ter sido mais errada. Mas como o Matheus ia dizendo “A vida continua”, e quem pode saber as lições que o amor ainda me trará...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

29- Dor x Dor

“Acho que sim...” Disse menos tonta.
Ele sorriu. “Te amo.” Me deu um beijo rápido e me levou apressado.
A porta da casa se bateu.
Tinha outra porta além da que ligava o quarto ao restante da casa, uma que dava para a rua e que estava protegida com uns pedaços pregados de madeira. Meus amigos tinham conseguido liberar a passagem e foi por ali que saímos sem olhar para trás.
Matheus pegou a Colli do colo da Kate. “Sou mais rápido e assim você consegue correr mais.”
Eles saíram correndo por um lado da rua escura.
Não ouvi a chave destrancando a fechadura tampouco o som da porta daquele quarto se abrindo. Só o barulho de quando ela se bateu com força, fazendo a estrutura das paredes tremerem, que me atingiu. 
Scott me puxou com força me obrigando a correr com ele também. A chuva atrapalhava a visão e atrasava nossos passos em milésimos preciosos. Era difícil saber a que distância Ákyl corria atrás de nós, porque o silêncio da chuva era o mais barulhento de todos, tudo cantava em diversas proporções e era impossível encontrar o som dos passos do nosso ex-diretor quando tudo em que eu conseguia me concentrar era correr ainda mais.
Pensei que o Scott tinha tropeçado em algo quando seu corpo mudou de ritmo e despencou na minha frente. Ákyl tinha acabado de acertar um tiro no meu amor... Scott nunca pareceu tão assustado como naquele momento. O outro tiro foi em mim, logo em seguida, e caí com o Scott no chão.
A chuva pareceu mais fria. Scott permanecia com os olhos abertos, mas duvido que ele ainda estivesse vendo alguma coisa. Perdi os sentidos e desmaiei.
Numa rua perto dali, Kate e Matheus também corriam sem saber mais do que até que ouviram o disparo. Kate saiu como louca na direção do som, Matheus tentou impedir, mas foi em vão. Ele não foi com ela, porque carregava a pequena Colli em seus braços e ele precisava protegê-la.
Matheus encontrou um carro policial perto dali e conseguiram chegar até onde nós estávamos antes que o Ákyl tirasse a vida da Kate que já estava também seriamente ferida no chão.
Finalmente Ákyl pagaria por seus crimes.
Mas não só ele tinha contas a pagar...
***
Fiquei por tempo demais encarando aquele livro diante de mim, com a mente distante, remoendo tudo o que não poderia mais ter conserto.
Matheus pediu licença à moça e me puxou para as estantes enormes de livro.
“Não sei mais se fazem por bem ou por mal.” Comentou brevemente. “Cadê você, meu filho...” Matheus falava com os livros e conseguiu me arrancar uma risada que ele acompanhou, mas tão sem querer como veio se foi. Não era certo sorrir.
“Qual é o nome? Assim posso te ajudar.”
“Não consigo lembrar direito, só vendo pra saber...”
Eu não estava contente, a tristeza ainda estava ali, mas era bom ter comigo alguém que também estivesse triste. Ser triste sozinho era ainda mais triste.
***
Tivemos alta todos juntos. 
Naquele dia fingi ir para a escola quando na verdade fui com o Scott até a casa da Kate, ali mesmo em Almerim. 
Encontramos Matheus com olhos vermelhos acarinhando a Colli que dormia em seu colo no sofá da sala. 
“Cadê a Kate?” Scott perguntou quando não a viu também na sala, ignorando o estado do nosso amigo.
Scott não conhecia o Matheus como eu conhecia. Deve ter acreditado que aquelas lágrimas eram por tudo que tínhamos passado, mas eu podia dizer com certeza que não. Era outra dor, uma que nem mesmo a face serena adormecida da pequena Colli conseguiu confortar.
“Na copa.”
Quando Scott passou na minha frente para ir à cozinha eu previ que a mesma aflição do meu amigo atingiria a todos nós... e nem cheguei perto de estar certa.
Kate estava sentada numa das cadeiras ao redor de uma pequena mesa redonda, cotovelos na mesa, mãos apoiando seu rosto. Ela já nos esperava.
Só então Scott notou que tinha algo acontecendo. “Que houve, Kate?”
“Eu e a Colli vamos embora.” Kate disse sem rodeios.
Um comprido segundo silencioso.
“Embora?”
“Ainda não sei ao certo pra que lugar, qualquer um distante. Tenho alguém vendo isso pra mim.”
“Você está querendo dizer...”
Kate o interrompeu. “Exatamente o que eu disse.”
Scott atravessou para perto da Kate pegou um dos seus braços e ordenou. “Vocês não vão embora!”
Ela passou segundos eternos o encarando quando uma lágrima desceu. Scott chegou a tocar seu rosto para enxugar, mas Kate esquivou o rosto e voltou seus olhos para mim que até então tinha sido apenas plateia. Ele também me olhou e, como se tivesse cometido um crime, se afastou rapidamente da Kate. Minha presença tinha sido completamente esquecida.
Nada foi dito enquanto os dois me encaravam. Ninguém podia fugir daquela verdade que insistia tanto em querer ser aceita. 
Scott ainda olhava dentro dos meus olhos quando começou a dizer. “Você vai precisar de seus amigos...”
“Até o final do dia já estará tudo arrumado e partirei.”
Matheus estava numa tristeza sem fim, mas ele nunca iria para tão longe, deixando tudo para trás, para ir com a Kate. Então, de alguma forma, ele aceitou a sua sentença.
Por outro lado, Scott não tinha limites... ele não sabia ser contrariado. Passou o resto da manhã e parte da tarde remoendo aquele assunto. 
Por mais que eu o amasse eu nunca diria para que ele fosse, eu só não imaginava que não dependia de mim...
Ainda não tinha anoitecido quando ele foi até o meu quarto.
Sentou-se ao meu lado na beirada da cama, pegou uma das minhas mãos e olhou dentro dos meus olhos. A sua expressão era devastadora. Passou uma mão por meu rosto.
Eu queria que ele me dissesse de uma vez, mas não consegui encontrar minha voz.
“Eu te amo...” Ele disse, mas tinha algo diferente dessa vez. “Você entende o que isso significa?”
Esperei que ele continuasse.
“Significa que desejo o seu bem acima de qualquer coisa. Significa que quero a sua felicidade... o melhor para você. Consegue entender isso?”
“É o que também sinto por você...”
Pensei ter visto seus olhos marejarem e isso me deixou ainda mais aflita. “Fala, Scott...”
“Tem algo que eu não posso deixar de fazer e você vai me odiar por isso.” Ele apertou com mais força a minha mão, olhou para o outro lado e pensei que ele fosse morrer pela forma em que inspirava e expirava ar.
Coloquei meus braços ao seu redor. “Calma, amor...” Alisei suas costas. “O que está acontecendo, Scott? O que você vai fazer?”
Ele começou a soluçar no meu peito.
Foi quando eu entendi. 

28- Silêncio x Barulho

Chuva e frio... 
Foram longos dias assim.
Scott... 
Eu ainda esperava acordar e descobrir que tinha sido tudo um pesadelo.
***
Acordei numa cama de hospital. Não tinha ninguém comigo, nenhuma explicação, nenhuma notícia. Mas de alguma forma eu já sabia, só não queria acreditar que aquela dor no meu coração tivesse razão.
Quando meus pais passaram pela porta do quarto onde eu estava, eles choravam como crianças. Um doutor jovem os acompanhou, me examinou rapidamente e disse que eu estava bem. 
Um calafrio percorreu meu corpo. Eu reconheci aquele hospital. Foi onde há pouco tempo meus amigos também estiveram internados. 
“Me digam, por favor...” Esperava ansiosa por saber do Scott.
Quando meus pais trocaram olhares e pegaram na minha mão senti o mundo ficar distante. Eles abriam a boca, mas eu não os ouvia. Apaguei.
***
Eu deveria estar em sala de aula, mas tinha feito como todos os dias anteriores e ficado trancada no meu quarto. Olhei irritada pela janela o céu cinza e a chuva que insistia em cair.
Scott...
Fechei a cortina e voltei para debaixo das cobertas.
***
“Consegue se lembrar de tudo o que aconteceu?” O doutor me perguntou.
O olhar vazio do Scott me atingiu.
“Não precisa forçar, descanse um pouco mais. Depois conversamos, prometo.”
“Só me diz... Scott Meyer... como ele está?”
***
Já tinha perdido a noção dos dias quando minha mãe bateu na porta do meu quarto e entrou.
“Filha...”
Continue imóvel e muda, qualquer esforço parecia demasiado e completamente desnecessário.
Ela sentou-se na ponta da cama. Eu queria ficar sozinha novamente. Não queria ser consolada... eu queria sofrer até que não fosse mais possível.
“Mari... querida.” Alisou um dos meus pés por cima da coberta. “Eu e seu pai decidimos comprar uma casa lá pra perto de onde sua avó mora. Não é na mesma cidade, mas é uma cidade vizinha. Cercado por verde, você vai amar. Só vai levar mais um pouquinho de tempo para a mudança, porque ainda vai precisar de uma reforma, mas isso é o de menos. Vi um colégio pra você por lá... não é nada comparado com o Elite, mas também tem uma biblioteca que você vai amar.”
Não queria deixar Almerim.
“Está chorando, filha? Não gostou? Nós podemos ver outro lugar, se for o caso...”
Não tenho certeza, mas acho que disse repetidas vezes “Almerim” enquanto chorava caindo no mundo dos que - supostamente - sonham.
***
Tive medo de me recordar de detalhes do ocorrido e quando vi uma turma do colégio se aproximando do meu leito no hospital todos com capa preta, tão... Tive muito mais medo.
***
Minha mãe aceitou deixar de lado a ideia de nos mudarmos de Almerim com uma condição: que eu deixasse de ficar trancada em meu quarto. Não era nada justo, porque eu não sabia sequer como conseguiria passar pela porta de casa e encarar aquelas mesmas ruas... agora tão vazias dele. Mas ir pra qualquer lugar que não fosse ali me assustava muito mais.
Pensei no único lugar em que jamais estive com o Scott em Almerim. O único lugar onde eu poderia deixar o tempo passar sem grandes traumas até poder voltar para casa deixando a minha mãe convencida de que eu estava melhorando.
Comecei com passadas tímidas pelo caminho, mas em cada centímetro daquelas ruas eu me via com o Scott. Corri e acelerei mais e mais até que já sem fôlego cheguei à livraria repleta dos meus preciosos clássicos da literatura.
Passei pela porta e todos me encaram. Os rostos conhecidos me incomodaram. Eles sabiam demais.
“É ela mesmo?” Ouvi alguém perguntar.
Eu não sabia mais como parecia, mas a julgar por como me sentia...
Mais a diante reconheci o rapaz estirado num sofázinho com um livro na mão, tão concentrado em sua leitura. Há quanto tempo que eu não o via? Sua aparência tão cansada, tinha envelhecido anos em dias.
Pensei em correr depressa para algum canto.
A porta se abriu fazendo uma corrente de ar congelante passar por ela. Estremeci.
Matheus desviou seus olhos do livro e me viu. A dor em seu olhar veio logo após a surpresa. Eu não queria chorar, mas, já sentindo uma lágrima descendo, fui até ele.
Nem no meio de tantos livros fui capaz de escapar da dura verdade que uma ausência repetia infinitas vezes...
Matheus se levantou e me deu um longo abraço. Um abraço que dizia tudo o que não conseguíamos.
“Tem um livro que sei que você vai gostar...” Matheus disse assim que nos apartamos dos braços um do outro.
Ele pegou a minha mão e estava para me guiar quando senti alguém tocar meu ombro. Era um dos rostos desconhecido que me estendeu um livro.
Aprenda a superar a dor da ausência
Cruel. Não tinha como fingir. Eles tinham partido. Pra sempre.
***
Scott acertou em suspeita de onde o Ákyl deveria ter ido com a Colli. A prova disso foi ao chegarmos e termos sido surpreendidos com pancadas fortes contra nossas cabeças. Apagamos. Fui a última a acordar.
O lugar era horrível, com um cheiro forte de madeira pobre. Ainda estava tentando coordenar os pensamentos em minha mente. Que lugar era aquele? Foi a minha primeira pergunta e antes que eu pudesse fazer mais alguma - que também não saberia a resposta – Scott tocou meus pulsos, afrouxando a corda que os prendia.
“Shi. É a nossa chance de escapar agora. Tenta não fazer barulho...” Scott sussurrava, mas não fazia sentido. Nada fazia.
Escapar daquele lugar. Eu sentia medo, mas a minha mente era um branco, cada vez mais distante de qualquer razão.
“Vem, Mari...” Scott me apoiava em seus ombros. “Consegue ficar em pé, amor?”
Enxerguei algo atrás dele e precisei me concentrar um pouco para perceber que era a Kate, a Colli e o Matheus.
“Então vamos...” Scott ameaçou me guiar com paciência, mas um som de motor de carro o deixou em pânico.
“O que está acontecendo?” Perguntei aflita. Era o carro do Ákyl que tinha se ausentado por pouco tempo; soube depois. 
Ele colocou suas mãos ao redor do meu rosto, seu olhar... “Vou tirar você daqui. Só preciso que corra, você consegue?”

domingo, 20 de novembro de 2011

27- União x Separação

Scott estava no carro com as mãos no volante. Kate do lado de fora, na janela, berrado, ora tentando abrir a porta do carro, ora afastando as mãos do Scott do volante e das chaves.
“Você vai ficar. Para com isso, vai acabar se machucando. Já disse que vou sozinho.” Scott berrava de volta para a Kate.
Matheus chegou até eles antes de mim. “Abre essa porta que você não vai sozinho.”
“Você precisa ficar pra cuidar delas.”
“Não preciso de uma babá. Ela é minha filha e eu vou.”
“Scott...” Disse sem fôlego mais pelo medo de que o Scott partisse sozinho do que pela corrida.
Ele encontrou meus olhos e sua expressão mudou. “Tudo bem. Entrem logo.”
***
Assistíamos todos a uma partida de basquete no colégio. 
Scott era de longe o melhor. Seus movimentos eram perfeitos; eu não precisava entender do jogo para afirmar isso. Ele era tão brilhante em tudo o que fazia, em qualquer lugar... Era sempre o que mais chamava atenção. 
Em cada cesta ele fazia questão de mandar um beijo apontando pra mim. Como era exibido... E por mais vergonha que eu sentisse, sentia igualmente satisfação. Eu imaginava se meu coração não iria parar de vez numa daquelas horas.
Assim que o jogo terminou, dando fim ao campeonato em que o time da nossa escola ganhou, eu só conseguia ver o Scott no meio de toda aquela multidão alvoroçada. Saí em sua direção, pulei em seus braços que já me aguardavam abertos.
“Você é lindo, Scott!”
“O quê?”
“Eu te amo!” 
***
Aconteceu tão rápido... Num momento estávamos saindo do carro, no outro senti uma pancada forte contra a minha cabeça, um gosto amargo na boca e mais nada... Onde eu estava?
***
“E o Jack, Scott?”
“O que tem ele?” Sua voz ficou ríspida.
“O que aconteceu entre você dois? Vocês são irmãos, né, mas...”
“Não somos irmãos e não quero falar sobre isso.”
“Não entendo. Aconteceu algo tão ruim assim?”
Ele bufou. “Mari, não quero falar sobre isso.”
“Tem muita coisa que não quero falar com você e que você insiste mesmo assim. Então, nada mais justo.”
Bufou novamente. “Eu fui um idiota, ok? Era isso que queria ouvir? Eu só fiz idiotice na minha vida. Só que... Não quero me desculpar com ele, com qualquer um, menos com ele.”
“Por que não?”
A dificuldade de falar sobre aquilo era mesmo algo significativo. Ele abria e fechava os lábios diversas vezes, procurando as palavras. Sua expressão era confusa, não sabia dizer se era raiva ou tristeza, talvez fossem os dois. 
Eu poderia acalmá-lo, dizendo para deixar para lá, mudando de assunto. Mas se eu o fizesse, não estaria realmente ajudando.
“Não seria o bastante. É a única coisa pela qual não posso me perdoar. Quer dizer... Ele não tinha ninguém e eu fiz de tudo pra complicar mais as coisas. Eu podia ter feito alguma coisa, sabe? Eu podia...” Suspirou. “A forma como ele age nunca fez sentido pra mim e isso me irritava. Me irritava também que nada do que eu fizesse o atingisse de verdade. Não me orgulho de nada disso. Não sei o que se passava na minha mente também, mas eu queria muito irritar o Jack... Irritar todo mundo. Era uma raiva tão grande dentro de mim. A mãe dele tinha se tornado a minha... eu não queria dividir isso. Sei lá. Uns pensamentos tortos.” Deu uma pequena pausa. “Como pedir desculpas por isso? Não posso...”
***
Minha vista começava a encontrar algum sentido das coisas ao meu redor. As madeiras mofadas e pregadas umas sobre as outras de mau jeito formavam um lugar muito ruim para se estar. Minha cabeça pesava uma tonelada e não conseguia direcioná-la direito. Meus braços pareciam estar amarrados, não sabia dizer ao certo, porque a dor era intensa.
Senti um gelo profundo atingir meus pulsos e gemi.
“Shi. É a nossa chance de escapar agora. Tenta não fazer barulho...” Scott sussurrava, mas não fazia sentido. Nada fazia.
***
“Por mim a gente cancelava esse jantar... assim você não precisava se preocupar com roupa...” Scott insinuou quando pedi a sua opinião sobre dois vestidos.
“Para, Cott... É sério.”
Ele sorriu convidativo ignorando meu apelo.
“Vou com o preto então.” Fingi não ter desejado largar aqueles vestidos pra longe pra me jogar em seus braços.
“Te espero no carro.” Scott saiu frustrado.
Dizem que devemos viver como se não houvesse amanhã... e se eu apenas tivesse dado ouvidos a esse conselho...
***
“Vem, Mari...” Scott me apoiava em seus ombros. “Consegue ficar em pé, amor?”
Vi Kate, Colli e Matheus.
“Então vamos...” Scott ameaçou me guiar com paciência, mas um som de motor de carro o deixou em pânico.
“O que está acontecendo?” Perguntei aflita.
Ele colocou suas mãos ao redor do meu rosto, seu olhar... “Vou tirar você daqui. Só preciso que corra, você consegue?”
“Acho que sim...” Já estava menos tonta ou talvez fosse apenas o medo.
Ele sorriu. “Te amo.” Me deu um beijo rápido e me levou apressado.
Uma porta se bateu. Perto demais.
***
“Qual é o seu maior medo?” Perguntei.
“Não tenho nenhum.” Ele disse sem ao menos refletir.
“Nossa... Sério mesmo?”
“Medo é para os fracos!” E gargalhou. 
Continuei séria, duvidando.
“Não tenho mesmo medo de nada... Tem jeito pra tudo. Você tem medo de quê?”
De perdê-lo, somente isso, desesperadamente isso... mas como dizer?
***
Matheus pegou a Colli do colo da Kate. “Sou mais rápido e assim você pode correr mais também.”
Tudo acontecia rapidamente. Eles saíram por um lado correndo na rua escura. A porta atrás da gente se abriu. Scott me puxou com força me fazendo correr com ele também. Chovia muito. Era um silêncio sem fim. Era um barulho sem fim. Não importava. Eu tinha que correr sem parar.
Scott pareceu tropeçar quando voou um pouco mais na minha frente. Seu olhar não era de alguém destemido...  Senti algo me atingir e despenquei com o Scott no chão.
Que frio. Scott encarava o vazio... seus olhos vazios... Deixei de sentir o frio, a chuva, a dor... Tudo escureceu.

domingo, 13 de novembro de 2011

26- Destino x Livre Arbítrio

Não fazia ideia de que horas eram quando chegamos à Primavera e encontramos uma Kate com olhos fundos e vermelhos. Soltou um palavrão assim que nos viu parando o carro.
“Pensei que nunca fossem chegar. É tarde demais, não é?” Mais palavrões. “O que vou fazer agora?”
Foi um gesto tão singelo e com toda aquela situação não deveria ter feito com que eu me sentisse daquela forma, mas quando vi Kate saindo dos braços protetores do Matheus para os braços do Scott, como se ali fosse o seu lugar, precisei fingir que aquilo não doeu no meu coração.
***
“Ah, eu peguei esse livro hoje lá naquela livraria que te mostrei.” Matheus teria dito mais se nossa atenção não fosse desviada para as gargalhadas que foram iniciadas por três criaturas no quintal.
Senti-me tão distante, como uma plateia, na varanda da casa da Kate assistindo aquela cena: Scott correndo atrás da Kate juntamente com a pequena Colli. Ele encheu a Kate de cócegas assim que a alcançou e as risadas eram tão alegres... 
Pareciam um jovem casal com sua filha. Não consiga ver de outra forma. Mas ele e Kate não tinham nada... Scott estava comigo por livre e espontânea vontade... Não era? Eram pensamentos ruins que eu precisava afastar da minha mente doentia. 
Virei as costas já pronta para entrar na casa e ocupar a mente com qualquer outra coisa. Matheus pegou a minha mão, impedindo-me. Seus olhos pediam que eu ficasse ali com ele, mas não ousou pronunciar.
Eu ficava até lisonjeada vendo todas as colegiais me odiando por estar namorando o Scott. Adorava vê-lo ignorando todas elas. Mas só precisava vê-lo sorrindo para a Kate para os piores pensamentos surgirem em minha mente. Pensei em como o Matheus poderia suportar ver Kate toda noite com alguém diferente e não ter enlouquecido.
“Como você aguenta?”
Matheus, que ficou de costas para a diversão no quintal (ao pegar na minha mão), acompanhou meus olhos para onde os outros três brincavam apenas para suspirar, porque ele já tinha visto, e voltou para mim com olhos cansados.
Eu sabia... eu sabia, porque era palpável de tão grande o amor que Scott e Kate sentiam um pelo outro. Só não conseguia entender. E a todo custo eu preferia fingir que era só uma amizade como outra qualquer.
“Sem ela...” 
Ele nunca precisou terminar aquela frase. 
***
Eu estava na cozinha com o Matheus, colocando um pouco de açúcar em um copo de água. Uma gritaria começou do lado de fora da casa.
“Eles não estavam aqui dentro?” Matheus.
O som do motor do carro foi mais do que o suficiente para que saíssemos da cozinha às pressas.
***
Eu nunca, em toda a minha vida, tinha pisado em um parque de diversões.” Comentei com o Scott durante um passeio da turma.
Ele deu um leve aperto na minha mão que segurava, satisfeito. “Vou te levar ao lugar mais romântico de todo o parque: a Roda Gigante.”
Devolvi o aperto em sua mão.
“Pra onde todos foram?” Perguntei vendo uma multidão de pessoas desconhecidas pelo parque.
“Kate disse que vinha depois...”
“Você já me disse. Quero saber dos meus amigos que estiveram o tempo todo conosco na viagem. Yasmin e Derick também disseram que vinham depois, mas até agora nem deram sinal de vida.”
“Não sei.”
Seu celular começou a tocar. “É a Kate.” Scott disse ao olhar a tela do aparelho.
“Oi, Kate. Já está vindo?... O quê?” Soltou a minha e se afastou um pouco, para mais distante das músicas altas.
Voltou aflito. “Amor, Colli está queimando de febre. Ela já está indo ao hospital e eu vou também para não deixa-la sozinha. Não tem trânsito, vou levar meia hora.” Olhou ao redor procurando algo.
“Então também vou com você.”
“Não, não, amor. É a sua primeira vez aqui, quero que se divirta. Ali!” Olhei no mesmo instante para onde ele apontava. “Seus amigos. Vamos lá. Vou te deixar com eles antes de ir.”
Fui tão egoísta por tanto tempo que quando decidi não mais ser achava que precisava fazer a vontade dele acima da minha e que isso era não ser egoísta, que isso era amar. 
“Deixa que vou até eles. Vai lá pro hospital.” Forcei um sorriso, o melhor que pude.
“Prometo não demorar.”
“Te espero.”
Deu um beijo estalado em meus lábios e foi embora.
Ele sempre cumpre suas promessas, reforcei o pensamento.
“O que faz sozinha?” Matheus me deu um susto aparecendo do nada. “Desculpa, não quis te assustar.”
Não era ele que deveria ter ido ficar ao lado da Kate? Por que tudo parecia tão errado, tão fora de ordem? E eu ainda não fazia ideia... Não se deve mexer com o destino, ele tem um jeito de deixar tudo em seu lugar e eu aprendi essa lição da pior forma possível.
“Vi seus amigos logo ali, vem?” Ofereceu-me sua mão.
Parte de mim queria continuar no mesmo lugar esperando pelo retorno do Scott e essa mesma parte precisava da companhia do Matheus.
Coloquei minha mão na sua e enquanto quase morria do coração diversas vezes naqueles brinquedos malucos com meus amigos, também quase esquecia que faltava alguém ali.
Já era noite quando todos decidiram ir à Roda Gigante.
“Vem, Mari. Esse é o mais tranquilo, não precisa ter medo.” Matheus.
“Não... Estou cansada. Vou dar um tempo.”
Matheus estava já descendo um degrau para ficar comigo quando o parei. “Você vai. Só quero ficar um pouco sozinha.”
“Você merece mais do que um cara que te larga sozinha.”
“Acho que o mesmo vale pra você.”
Ele sorriu triste. “É...” Virou as costas subindo.
“Math!”
Ele parou.
“Obrigada.”
Fiquei parada na entrada do parque por um incontável tempo. Quando o Scott surgiu caminhando na minha direção toda a minha raiva se foi. Quis muito bater nele, xingá-lo, reclamar por ele ter me deixando por conta própria; mas estava tão feliz por tê-lo de volta...
Corri até onde ele estava e o abracei. 
“Desculpa... Acabei demorando. Vamos agora?” Apontou com a cabeça na direção da roda gigante.
“Vamos...”
Scott falou sem parar na roda gigante. Eu segurava firme as suas mãos, como se a qualquer momento ele fosse receber um telefonema e saltar dali mesmo para longe de mim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

25- Guerra x Paz

 “Fala com calma, Kate, não estou conseguindo entender nada do que diz.”
Scott já estava falando com a Kate pelo celular. Saltei da cama e fui até ele.
“O Matheus está aí com você?”, “Ah, entendi.”, “Mas tenta ficar calma”, “Já estou indo.”
Olhava dentro dos olhos do Scott durante toda a curta conversa tentando descobrir o que acontecia, estava realmente assustada com o estado de nervos em que o Scott ficou.
Desligou.
“O que foi?”
“Preciso ir até Primavera agora.” Ele procurava pelas chaves do carro, adivinhei.
“Na primeira gaveta no quarto.” Indiquei. “Ainda é quinta, o que vai fazer em Primavera? O que aconteceu com a Kate? O que tem o Matheus?”
Ele deu um giro e já estava no quarto pegando a chave. Voltou no mesmo segundo.
“Vai sem roupas?”
Scott se olhou irritado. “Coloca as suas também, que te deixo no dormitório no caminho.”
“Mas eu vou com você pra Primavera.”
Comecei a me vestir apressadamente como ele.
“Claro que não.”
“Claro que sim! E você vai me dizer o que está acontecendo.”
“Ákyl levou a Colli.”
“Ah?”
“Já está pronta? Vamos.”
Foi um pulo até chegarmos ao carro.
“Matheus também está lá?”
“Ele quis ir com a Kate cuidar da Colli... Você sabe que a babá furou...”
“Mas... Ákyl? O que esse infeliz ainda faz por aqui? Pensei que ele não fosse mais voltar, você disse que...”
Ele me interrompeu irritado. “É, eu sei o que eu disse.”
Desde o acidente que o Derick e a Yasmin sofreram no carro no ano anterior, eu ficava imaginando coisas toda vez que estava em um, era estúpido já que foi um caso completamente a parte, mas não conseguia evitar e com os solavancos que o Scott estava dando o meu medo parecia muito sensato.
“Desculpa, Mari...” Ele disse de repente. “Não queria falar com você assim. Estou nervoso, mas não tem nada a ver com você. Desculpa.”
“Eu entendo. Só não precisa dirigir que nem um louco.”
Scott sorriu nervoso. “Tem certeza de que quer ir comigo?”
“Claro.” Ele deveria saber que eu iria para qualquer lugar que ele fosse.
“Me sinto culpado.”
“Culpado?”
“Garanti a Kate que ela nunca mais precisaria se preocupar com ele e ainda trouxe a Colli...” Apertou os lábios. “Se algo acontecer com a Colli... nunca vou me perdoar.”
Peguei o seu ombro. “Ei, nada vai acontecer ela. Vai ficar tudo bem.”
“Como você pode dizer isso?”
É eu não podia... Não respondi e ficamos em silêncio por um tempo.
“Qual é o seu plano?”
“Acho que sei onde ele está. Se eu estiver certo, posso pegar a Colli de volta e dessa vez esse cretino não vai escapar.” Ele me olhou rapidamente. “Você está morta. Dorme um pouco, ainda vai demorar até chegarmos.”
Não queria dormir, não devia estar com tanto sono assim, mas meus olhos se fechavam e eu não conseguia impedi-los.
***
“Não quero ir dormir...” Fiz manha, abraçando o Scott no momento em que ele planejou abrir a porta do carro para nos levar de volta ao dormitório.
“Você sabe que temos que ir...”
“É eu sei.” Concordei sem ânimo. “Só que o tempo passa tão rápido quando estou com você...”
Scott suspirou antes de afrouxar meu abraço. “Temos a vida toda. Agora é melhor voltarmos logo, não quero quebrar a confiança dos seus pais.”
“Viu porque era melhor antes?”
“Antes de contá-los sobre nós?”
“É!” Disse abrindo a porta do carro irritada. “Antes não tinha problema dormir fora do dormitório, porque eles sequer sabiam. O tempo que já é pouco fica ainda menor.”
Ele entrou no carro ao mesmo tempo. “Estive esperando até hoje que você falasse sobre conhecer os meus pais.”
O que isso tinha a ver com o que eu falava? Não tinha importância, não quando o Scott falava daquele jeito...
“Desculpa. Eu não...”
“Deixa isso pra lá. Não acho que seria mesmo uma boa ideia conhecê-los - não são como seus pais – só queria que você estivesse ansiosa por isso. Saber mais sobre mim. Às vezes, sinto como se você não pensasse num futuro pra gente. Como se só fosse o agora.”
Odiava quando ele falava como se fosse um coitado mal amado. Fazia com que eu me sentisse mesmo uma pessoa tão insensível. E o pior era que eu sabia o quanto ele também odiava parecer tão sensível, e que se deixava que eu o visse dessa forma era porque realmente o estava enlouquecendo. Então, talvez eu fosse mesmo tão insensível...
“Mas eu penso no nosso futuro.”
“Naquele em que não poderemos nos ver nunca? Onde tudo dá errado com a gente?”
“Isso não é justo. Você sabe que sou assim, insegura. E gosto quando você me diz como pode dar certo.”
Ele jogou a cabeça contra o volante. “Estou agindo como um idiota de novo, não estou?”
“Você vai acabar conseguindo me deixar doida de vez...”
“Desculpa. Não sei por que fico pensando essas bobagens.”
Quis afagar seus cabelos e sussurrar em seu ouvido as palavras, mas meu coração deu um salto tão grande que acabei por desviar o olhar para a janela ao meu lado quando confessei. “Eu vou te amar pra sempre, Scott...”
Seu silêncio me incomodou. Esperava que ele dissesse “Eu também”, ou pelo menos qualquer coisa que não me fizesse desejar ter mantido a boca fechada. 
Forcei-me a olhar por um tempo desconfortável para a paisagem estática além da minha janela até me sentir ridícula demais e voltar minha visão para o garoto descansado sobre o volante.
“Já está bem tarde, Scott. Melhor começar a dirigir logo.”
Não tive resposta. Ele estava dormindo? Não era possível... Só que realmente estava. Não pude evitar uma risada. Scott esteve tão cansado àquela noite, com um humor estranho, manhoso demais... Não se aguentava mais de sono. 
Sequer ouviu o que lhe disse. Mas não era como se já não tivesse cansado de lhe repetir que o amava. Sempre lhe confessava enquanto fazíamos amor, mas pensando sobre isso, não tinha o costume de lhe dizer em outras ocasiões, mesmo que ele me dissesse em cada beijo estalado que me desse. Ele teria gostado de ouvir naquele momento, disso eu sei... E eu ainda disse pra sempre... Pra sempre é tanto... 
Queria ter sido apresentada aos seus pais como sua namorada. Queria ter visto suas fotos de quando mais novo e escutado suas histórias. Queria que nossas famílias tivessem se reunido. 
Mas o que eu queria mesmo, eu nunca vou poder ter, não é, Scott?!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

24- Esquentando x Esfriando



Abaixei-me também, envolvendo aquele corpo tão doente quanto o meu.
“Me perdoa, por favor...” Implorei.
“Te perdoar? Você não entende... O meu coração é seu, Mariana. Faça-o em pedaços quantas vezes quiser, ele continuará sendo seu.” Confessou sem forças, “Eu só sei te amar...”
Meu organismo deve ter parado de funcionar por um tempo enquanto eu tentava absorver as palavras mais lindas que ouvi em toda a minha vida. Scott podia ter dito “Eu te curto” que causaria o mesmo efeito, era por vim dele, era por ser quando pensei que estaria tudo acabado. 
“Você também não entende que a sua dor em mim dói muito mais que a minha própria.”
Scott tirou sua cabeça do meu ombro para olhar dentro dos meus olhos. Beijamo-nos e fizemos amor com uma paixão que só se conhece uma vez na vida. 
Eu nunca esqueceria o dia em que Scott Meyer me tomou em seus braços pela primeira vez.
***
“Eles me amam, você não devia estar tão agitada.” Scott dizia do outro lado da linha.
Eu tentava manter minha voz a mais baixa o possível para que meus pais não me ouvissem da varanda da casa. “Você que está calmo demais. O seu treinador pode te adorar o quanto for, mas meu pai não vai ficar nada contente em receber o meu namorado.”
“Daqui a pouco estou aí e então você verá. Não há nada para se preocupar...” Ele precisava me ensinar a ter essa autoconfiança inabalável. “Tem certeza que não seria melhor avisá-los que estou indo?”
“Não mesmo!”
Scott gargalhou do outro lado. “Que medrosa! Mas tudo bem... Só não pense que eu cheguei até aqui pra desistir fácil assim. A parte mais difícil eu já consegui que foi você...”
“Mais difícil? Você não conhece mesmo o meu pai.”
“Fica tranquila, amor. Só vou pegar as chaves e já estou aí. Não demoro.”
“Até logo...”
Scott esteve me enchendo a paciência para ser apresentado aos meus pais como seu namorado. Ele tinha esse gênio teimoso de querer as coisas mais complicadas, mas quando ele me dizia “Fica tranquila, amor” eu apenas ficava.
Meu pai estava me achando estranha, mas desconfiada mesmo estava a minha mãe. E quando apareci na sala, onde meus pais estavam, com minhas mãos dadas com o Scott eles compreenderam no mesmo instante.
“Boa tarde, senhor e senhora Vasconcello!”
Minha mãe era uma perfeita anfitriã mais que tudo e, antes que o constrangimento dominasse o ambiente, abriu um sorriso convidando o Scott a se sentar. Meu pai não conseguiu abrir a boca minuto algum. Já o Scott parecia tão calmo como se estivesse numa festa com seus amigos; e a sua paz fazia a minha.
Nada de mortos ou feridos. Meu pai não disse estar satisfeito, mas também não disse o contrário o que preferi acreditar ser por ter aprovado a minha escolha. Minha mãe ficou radiante depois da nossa conversa. Mais um ponto para o convencido do meu namorado.
“Viu? Eu disse que eles me amam...” Scott se gabava dirigindo até a casa da Kate.
“Bem, se eles não te amassem eu podia ter alguma salvação. Talvez eles me levassem pra fora do país, sei lá...”
“Sonhe, Mari, ou aceite a verdade: Você nunca vai se vê livre de mim. Nunca. Nunca.”
Dizem que não devemos dizer coisas como “sempre” e “nunca”, mas é aquele tipo de lição que você apenas ignora. Mas quem disse que o Scott já me fez alguma promessa que não cumprisse? Esse garoto não conhecia limites.
Tinha passado a apreciar bastante a companhia da Kate, mesmo que às vezes eu não pudesse deixar de sentir uma ponta de ciúmes pela necessidade do Scott em compartilhar tudo o que lhe acontecia com ela. A amizade deles era mesmo algo para se invejar.
Kate era uma borboleta e como ela poderia ser feliz se não fosse livre pelos ares? Engraçado como pensávamos diferente sobre o amor e liberdade. Ela parecia feliz com suas escolhas, mas você só precisava conhecê-la um pouco mais para descobrir que só parecia... 
Matheus sempre foi um rapaz maravilhoso, alguém pode imaginar o quanto ele não era impecável com a sua amada Kate? Enquanto ela tinha apenas dado uma diminuída em suas noitadas, Matheus parecia um anjo firme ao seu lado mesmo que tudo que fosse ter do coração da Kate fosse ser sua gratidão. Mas o que mais me fazia doer o coração era vê-lo sendo chamado entre os amigos desde babá a corno manso. Só posso dizer que cada um faz suas escolhas e esperar para que eles tivessem consciência das que estavam fazendo.
“Ruivinha!” Scott chamou passando pela porta da casa destrancada.
“Colli, o tio bobão acabou de chegar!” Ouvimos Kate falar alto para chamar a nossa atenção para onde ela estava no quintal.
“Cadê a princesinha?” Scott parecia mesmo um bobão quando falava assim, mas conseguia me arrancar ainda mais suspiros.
Matheus segurava o balanço de pneu parado da árvore onde Kate estava sentada e Colli escorria pelas pernas da mãe correndo precoce para a idade mesmo que completamente desajeitada.
“Meu!” A pequena disse com cara emburrada para mim segurando as pernas do tio.
Scott a pegou no colo rindo. “Todo seu!”
“Isso! Ensina coisa errada pra menina!” Fingi me importar.
“Ih, acho que deixamos a titia com ciúmes, Colli, e agora?”
“Colli vião” Aqueles bracinhos miúdos se esticavam pelo ar pedindo para o tio fazer a sua brincadeira preferida de avião.
***
Sabe quando você olha para a sua vida e sente que por mais que não esteja tudo perfeito você tem até se esquecido que tem alguma coisa para reclamar? Talvez você não saiba, eu mesma não sabia o que era sentir isso até que resolvi parar de me limitar tanto e fui com tudo no que eu mais temia: Scott Meyer.
Foi numa tarde, enquanto esperava o tempo passar logo para me encontrar com o Scott que percebi que nunca fui tão feliz.
Scott gostava de fazer longos planos para o futuro, mas todo dia ele achava que devia mudar alguma coisa e todo dia eu planejava com ele um novo caminho. O que nunca mudava era a melhor parte: eu e ele juntos para sempre. Para todo empecilho que eu enxergava que pudesse nos afastar um pouco que fosse (como a faculdade), Scott dava uma solução. Pensei de verdade que nem mesmo por mínimo tempo precisaria sentir a sua falta. Acho que eu estava começando a ver o mundo como ele via, onde os únicos problemas que existiam eram os que nós mesmos criávamos e que poderiam ser facilmente arrumados.
Chuva e frio me lembram do Scott, então, acho que não deveria sentir calafrios e odiar tanto esse tempo agora...
 “Você não devia pisar nesse chão frio descalço...” A verdade é que eu jamais reclamaria por tê-lo caminhando nu no quarto, mas com aquele tempo congelante eu me preocupava.
“Tenho você pra me aquecer.” 
“Então volta.”
“Só vou ver quanto tempo ainda temos até te levar de volta ao dormitório.”
Bufei e puxei as cobertas para cima da cabeça. Meus pais estavam de marcação e com isso minhas noites dormidas com o Scott tinham terminado.
“Que estranho... tem várias chamadas perdidas da Kate.”

domingo, 16 de outubro de 2011

23- Luzes x Sombras

“Gostou?” Ele perguntou.
“Como você...?”
“Venha.” Ele abriu a porta do carro.
Do lado de fora do carro consegui perceber que as luzes brilhantes na varanda da casa e pela pequena trilha eram velas.
“Scott, isso é lindo.”
“Sabia que ia gostar.”
“Que lugar é esse?”
“Um presentinho dos meus pais.”
Olhei incrédula.
“Vem, vamos entrar. Tem mais.”
Pegou minha mão e me guiou até o interior. Mais algumas velas iluminavam a casa por dentro. Paramos diante de uma mesa de jantar.
“Me dê crédito por ter encomendado uma comida deliciosa... Achei melhor não te fazer de cobaia dos meus dotes culinários ainda.”
O jantar foi um sonho.
O relógio pregado na parede me mostrando o tempo passar tão rápido me fez lamentar.
“Precisamos voltar, Scott.”
Ele não acompanhou meu olhar para o relógio. “Só se você quiser.”
“E se a Direção não fechar as portas do dormitório às dez.”
“Ou se eu te disser que não vamos ter problema algum com a direção, se passarmos a noite aqui.”
Passar a noite com o Scott... Como ele conseguia fazer um convite tão explícito com aquela cara de tranquilidade? Gelei dos pés à cabeça.
Ele percebeu e me deu o golpe mortal abrindo seu sorriso irresistível.
“Tudo bem. Vamos.”
Eu esperava por insistência, mais argumentos... ou, ao menos, um pedido. Como ele sempre agia; quando Scott Meyer não conseguia o queria? Eu era a prova viva que sua insistência o levava longe. Minha frustração era por minha vontade louca de não voltar para o dormitório.
“Como assim não teríamos problemas não voltando?” Perguntei sem encará-lo, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
“Da mesma forma que não temos nos encontrando no depósito.”
“Ah...”
“Quer arriscar?” Ele perguntou depois de um tempo, já com a mão na maçaneta da porta.
Por que diabos ele não estava agindo como sempre? Sem pedir minha opinião. Sem dar pouco caso ao que sugere.
Eu me vi sem controle, jogando meu corpo sobre o dele. Meu desejo era tão grande... Se ele não estivesse já abrindo a porta, o que eu teria feito? E a minha maldita virgindade já perdida? Talvez fosse melhor assim, apenas ir dormir.
Scott que já tinha aberto um pedaço da porta a fechou abruptamente. “Droga!” Olhei para seu rosto, ele me fitava impaciente. “Você não quer ir. Por que não diz?” Puxou-me para si pela cintura. Enquanto alisava meus cabelos com uma das mãos, seu sorriso tomava o lugar do aborrecimento. “Você é perfeita...” Disse baixo antes de me beijar.
Quando ele começou a tirar a minha primeira peça de roupa eu sabia que não podia mais adiar contar a ele a verdade sobre o que aconteceu em sua ausência. Prendi sua cabeça entre minhas mãos, seu rosto... Eu vi a coisa mais louca da minha vida; tão além do Scott, dentro de mim. Meu amor por ele não era algo que eu pudesse arrancar do meu coração; não estava de passagem. Era parte de mim, tal como cada parte do meu corpo, da minha alma. Eu nunca deixaria de amá-lo. Nunca deixaria de sentir como se o mundo fosse acabar só em pensar em perdê-lo. O que ele quisesse de mim ele já possuía. Eu faria qualquer coisa... sim, qualquer coisa por ele.
“Mari...” Ele sussurrou. Só então notei a sua expressão profunda. “Eu te amo tanto...” Repousou seu rosto no meu ombro.
Não sabia o que estava acontecendo comigo quando as lágrimas começaram a cair. Eu não podia deixar de contar-lhe a verdade, mas se eu contasse...
“Eu não sou mais virgem.” Disse de uma vez, antes que desistisse.
Demorou uma fração de segundo eterna antes que ele levantasse o rosto do meu ombro e me olhasse nos olhos. “O que você disse?”
Não consegui sustentar o olhar e encarei minhas próprias mãos. “Não sou mais virgem.”
“Matheus?” Perguntou-me quebrando o silêncio.
“Foi.”
Ouvi quando Scott inalou profundamente ar e, logo em seguida, levantou impaciente. Passou uma mão pela boca e encontrou meus olhos.
Quis mais do que nunca voltar atrás, não há poucos minutos quando contei o meu feito ao Scott, também não até quando me entreguei ao Matheus, muito antes disso tudo... Para quando era tudo bem menos complicado e onde tudo que nos mantinha separados era o meu não. Faria o meu medo cair em sono pesado e diria mil vezes sim para o Scott.
E ali, de frente para um Scott desiludido, eu podia sentir a sua dor no meu peito somada com a minha própria. Esse seria o nosso adeus? Tinham sido aqueles nossos últimos beijos? Nunca mais sentiria seu coração batendo forte contra o meu?
Minha respiração estava desordenada; sentia o ar faltar. Tentava a todo o custo não parecer tão desesperada em sua frente. Não queria que ele me odiasse ainda mais.
“Você me disse várias vezes que eu brincava com seus sentimentos. Engraçado. Muito engraçado.”
Scott meneou a cabeça e seguiu para a porta.
Meu orgulho ainda gritava dentro do meu peito que eu ignorasse tudo aquilo, que se ele me amasse ele encontraria uma forma de me perdoar e me compreender. Que seria melhor assim, sem ele. As coisas voltariam aos seus lugares aos poucos e mais pra frente eu poderia agradecer por esse dia.
Ignorei todas as vozes que gritavam dentro de mim. Eu sabia que sobreviveria sem o Scott, sabia que mundo não iria parar e que um dia eu estaria bem novamente. Mas o que eu não sabia e desejava ardentemente saber era como seria a minha vida com ele. E que se eu não tentasse tudo por isso eu jamais poderia me perdoar.
Corri até a porta antes que ele conseguisse tocar a maçaneta e me pus entre os dois.
“Sai... por favor.” Pediu.
Eu não sabia o que dizer ou o que fazer.
“Não quero te tratar mal.”
“Se for esse o seu preço para ficar...”
Suas sobrancelhas se uniram. “Vou pelos fundos.” Virou as costas já andando.
Agarrei uma ponta da sua camisa. “Não, Scott. Por favor, não vá.”
Ele parou.
“Eu não sei o que fazer, mas não posso te perder.” Confessei.
Virou-se. “Eu não te entendo, Mariana...” Scott chorava. “É ele que você ama?”
“Não!”
“Então, por quê?... Por que me odeia tanto? Porque insiste em me castigar? Por que faz isso comigo se tudo o que eu quis foi te amar? Só queria poder te amar...” Segurou meu rosto e deixou-se cair no chão apoiado em minhas pernas. “Agora você diz que me ama, mas não entendo... Me deixe ir, por favor... Sai do meu coração, que já nem me reconheço mais.”

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

22- Depósito x Rosas


Toquei a maçaneta e respirei fundo uma vez antes de girá-la. Abri a porta apenas o suficiente para entrar e o fiz sem olhar muito adiante, não querendo ver aquele espaço sem o Scott lá, nem mesmo por uma vez sequer.
Ainda estava fechando a porta e tomando coragem quando senti uma força contra, tentando abri-la. Afastei-me. Scott entrou olhando para o chão, depois se virou para fechar a porta. Finalmente ele olhou nos meus olhos. Seu olhar era terno e tão cheio de saudades quanto os que eu encontrava no espelho.
Aquele par de braços fortes me envolveu. Ele aspirou profundo com seu nariz gelado tocando meu pescoço. Eu poderia ter passado a eternidade naquele abraço.
Scott me afastou um pouco, apenas para analisar meu rosto, acariciou-o antes de me apertar novamente em seus braços
“Senti tanto a sua falta...” Tive coragem de dizer, com nossos rostos lado a lado.
“Também...” E me apertou com mais força, antes de me soltar.
“Cheguei a pensar que nunca mais fosse te sentir tão perto de mim, depois do que você me disse sábado.”
Ele se encostou numa parede com seus braços cruzados, depois descruzou e me puxou para si. “Tem ideia do quanto...” Apertou com força meus braços. “Não suporto te ver com outro.”
Flashes dos meus momentos com o Matheus me apanharam. Como eu era suja. Eu não consiga me arrepender inteiramente de nada. Estive tão desesperada por não sentir a falta do Scott...
Repousei minha cabeça em seu peito. “Foram tantos maus entendidos, Scott...”
“Você me dizendo isso... Você pedindo pra me ver... Querendo conversar comigo... Não parece real.”
“Quando você sumiu...” Minha voz tremeu.
Scott segurou minha cabeça com suas mãos e sua expressão era de partir o coração.
“Você me confunde tanto. Tudo o que eu mais quero é poder estar sempre com você, Mari.”
Eu queria dizer as palavras. Era o momento perfeito e elas vivam gritando repetidas vezes dentro de mim. Meu coração batia muito forte. Era algo que eu deveria dizer olhando em seus olhos, eu sei, mas...
Ele me beijou. No início doce como nunca até se perder na intensidade de nossos desejos. O sinal para voltar à sala tocou, mas isso não nos interrompeu. O mundo podia acabar que isso não nos interromperia.
Puxei sua camisa por seu pescoço a fora. Ele me olhou cauteloso, ainda ofegante. “Aqui? Assim? Tem certeza?”
“Eu te amo, Scott.” As palavras saíram, finalmente.
Ele me puxou para si novamente com seus beijos maravilhosos. Parou de repente.
“Não. Eu não posso.”
“O quê?” Exclamei.
“Não quero que a sua primeira vez seja num depósito velho de escola. Fico feliz que queira, mas a gente não precisa ter tanta pressa...” Deu um beijo na minha clavícula.
Minha primeira vez...
“Vamos voltar pra aula agora? Acho que você nunca matou aula na vida, não quero ser o culpado.” Riu. “Ei, vai passar rapidinho. Não faz essa cara...”
Forcei um sorriso.
Durante as aulas minha mente não vagava no milagre de ter me rendido ao Scott, mas sim em como eu o contaria sobre a minha noite com o Matheus. Tudo isso, porque o disse uma vez no mesmo depósito, quando ele ‘insistia’ em ir para o próximo passo, que eu era virgem.
Num mundo perfeito, onde eu não fosse tão idiota... onde ele não fosse tão idiota, teria sido assim. Uma noite romântica e a minha primeira vez com quem eu amava tão perdidamente.
Se o Scott já tinha surtado com o fato de eu estar namorando o Matheus, só nos vendo abraçados e de mãos dadas, imagina quando ele soubesse que compartilhei um momento tão especial da minha vida com outro?
Pensei em mentir. Podia fazer isso. Podia fingir. Seu orgulho não seria ferido e tudo ficaria bem, menos a minha consciência. Passei todas as aulas refletindo sobre isso e, então, decidi-me. Não iria esconder a verdade do Scott. Não era questão de poupá-lo, ou me poupar também - o que parecia a mesma coisa. Só não sabia quando teria a coragem de lhe confessar.
Mal levantei da cadeira para o segundo intervalo e o Scott já estava de prontidão ao me lado. Segurou firme na minha mão e não soltou mais. Perdi novamente a oportunidade de conversar com a Kate, mas isso tinha se tornado uma consciência distante. Todas as minhas prioridades eram o Scott. Decorar cada pedaço do seu rosto, suas expressões, seu movimentos, sua voz... Tudo sobre ele.
Passamos os intervalos entre os clubes também juntos. Era engraçado ver todos os olhares curiosos, uns surpresos, outros nem tanto, por me ver com o Scott.
“Tive uma ideia pra hoje.” Scott falou. “Me encontre na porta do dormitório daqui à uma hora.”
“Que ideia?”
“Surpresa.”
“Ok. Vou contar os segundos então.” Senti-me patética logo que disse, mas ele abriu um sorriso largo que me fez desejar ser patética mais vezes. O amor afeta mesmo as pessoas.
***
Já tinha passado meia hora do “daqui à uma hora” do Scott e nada dele aparecer. Mas eu já tinha esperado por ele muito mais. Esperei dias. Esperei semanas. Esperei meses. Esperei anos. Se eu dissesse que esperei por toda a minha vida, eu não mentiria; esperei sem ao menos saber que esperava.
E quando aquela figura apareceu com um buquê de rosas na mão, saí correndo em sua direção com a fome de toda uma vida. Ele estava mesmo de volta! E pra mim! Comigo! Pulei em seus braços, ele me segurou no colo, com minhas pernas ao redor do seu quadril.
“Mari...”
Arranquei-lhe um beijo sem fim.
“Quando dizem que rosas funcionam, não estão mentindo...”
Ri com ele. Soltei de seu colo, sem vontade, e reparei em suas roupas. “Pra onde vamos?”
“Pra onde você nunca mais vai querer sair...” Disse ao pé do meu ouvido.
Não pude evitar o espasmo do arrepio. Ele me mostrou seu sorriso rebelde.
“Tudo bem, Sr. Irresistível. Leve-me para o paraíso.” Brinquei, oferecendo-lhe minha mão.
Ele a pegou e beijou. “É exatamente pra lá que quero te levar.” Insinuou, deixando-me completamente envergonhada.
“Você fica ainda mais linda assim.” Soltou minha mão. “Só um segundo.” Sumiu da minha frente.
Ouvi o som de um motor e lá estava ele num carro prateado. Saiu do carro, abriu a porta e esperou que eu entrasse.
“Estou começando a ficar realmente curiosa... Pra onde está me levando?”
“Ainda não estava? Acho que vou dar mais voltas do que o necessário para te deixar curiosa por mais tempo, então.”
“Faça isso.” Ameacei.
Ele soltou uma gargalhada. “Como o seu mau humor me fez falta, minha rabugenta linda.”
Fingi me importar, mas me venceu ao dizer que sentiu minha falta...
Enquanto ele dirigia para vai-saber-onde, gostei da minha visão privilegiada.
Ele sorria, percebendo que eu o encarava. Mas nunca parecia o suficiente. Tinha sempre um detalhe novo em suas expressões... E o mais incrível era o simples fato de poder vê-lo.
“Pronto. Chegamos.” Scott anunciou, parando o carro.
Senti minha boca se abrindo com a visão.

21- Celular x Chave


Quando meus pais se dessem conta de que eu tinha saído de casa escondida e que ainda tive a capacidade de não voltar para casa antes que eles começassem a procurar por mim... Já podia visualizar grades e cadeados nas minhas janelas e portas.
Mas como eu podia negar tão pouco, como a minha presença, para Kate depois de tudo que ouvi? Era o mínimo que eu podia fazer por ela.
Expulsei todos de sua casa. Permanecendo apenas o Matheus que me ajudou com a arrumação. Ele não me perguntou o que conversamos em momento algum.
“Eu não queria ter te enganado, só que também não queria que passasse por aquilo...”
“Tudo bem, Math. Só não faça isso novamente, seja qual for a razão, por favor...”
Ele balançou a cabeça, ainda constrangido.
“Mas obrigada, por se preocupar comigo...”
Uma nova luz pousou em seu olhar.
“Consegue colocar a Kate na cama sem acordá-la?”
***
Vi quando o Matheus chegou no colégio na segunda-feira com um olho roxo e o lábio machucado.
“Meu Deus, Math! O que aconteceu?”
Ele abaixou o olhar. “Não foi nada. Desculpa, mas não quero falar sobre isso, Mari.”
“Tá. Mas você está bem?”
“É.” Disse sem vontade. “Vou pra aula, se não se importa.” E me deixou sozinha com milhões de perguntas.
Quando eu entrei na sala fiquei feliz, apenas por ver Scott lá no fundo da classe novamente. Seu olho roxo e cara emburrada me fizeram unir A à B.
“Viu quem está de volta? Ouvi dizer que ele voltou esse fim de semana... Apareceu na festa da Kate lá em Primavera.” Luan comentou assim que me sentei ao seu lado.
“Te contaram? Vocês ainda não se falaram?”
“Ele não parece num bom momento...”
O mau humor do meu querido idiota não era evidente só para mim.
Meu celular vibrou. Era uma mensagem de um número desconhecido.
Oi! É a Kate. Peguei o seu número do celular do Scott, espero que não se incomode. Viu o Matheus por aí hoje? Ele não responde as minhas chamadas...
Respondi: Sem problemas. Ele e o Scott andaram se batendo? Estou certa? O que aconteceu com eles? Vi o Matheus pouco antes de entrar na sala, mas ele está todo estranho (além do olho roxo), nem quis falar comigo.
Kate: Ah... Foi isso mesmo. Depois te explico direito, esses dois deram um showzinho no domingo lá em casa. Preciso falar com o Matheus, mas vou ter que esperar o intervalo. =/
Eu: Na sua casa? OO’
Ai, ai...
Kate: É... Matheus chegou em má hora e acabou ouvindo a minha conversa com o Scott, sobre a Colli e tudo mais. Agora ele também sabe.
Mas a briga foi por sua causa...
Eu: Minha causa?
Kate: Por que a surpresa? Eles eram amigos, Mariana...
Eu: Eu sei que errei...
Kate: Colli está aqui... no Brasil.
Eu: OO’
Kate: O maluco conseguiu convencer meus avôs a irem pra Primavera com a minha filha. Agora não sei mais o que fazer. Quero matar esse garoto!
Eu: Não sei como ainda não matou.
Kate: Pois é. A sorte dele é que estava morrendo de saudades da Colli. Mas agora é questão de tempo até toda essa história passear de boca em boca. E eu ainda nem me decidi...
Eu: Sabe que pode contar comigo, né? 
Kate: Obrigada, Mariana. =]
Agora vou deixar você prestar atenção na aula.
No primeiro intervalo tentei alcançar a Kate, saber direito o que estava acontecendo e ajudar como pudesse, mas a Camila me interrompeu.
“Você não precisa mais escrever sobre a ‘saída repentina’ do Scott, porque agora o tema é o seu ‘retorno repentino’... Mas não se preocupe que você não vai escrever essa. Se bem que não escreveu a anterior de qualquer forma... Enfim, acho que você pode ficar encarregada de distribuir os jornais, certo? Só passei pra te avisar. Bye!”
Sem direito de alguma resposta.
Entregar jornal? Isso era brincadeira, certo?
Liguei para o celular da Kate, para saber onde ela estava. Liguei uma, duas, três vezes e sempre caía na maldita caixa postal, até que fui atendida.
“Quando você liga pra alguém e não é atendida repetidas vezes isso não deveria significar alguma coisa? Estou tentando comer aqui.”
Um sorriso saiu sem permissão ao ouvir aquela voz. Como senti falta do meu amor ignorante...
“Cadê a Kate?”
Ele riu debochado. “Ainda não me acostumei com vocês duas tão próximas...”
“Eu fiz uma pergunta.”
“Foi se encontrar com o seu namoradinho.”
Consegui ver de longe o Scott sentado sozinho na mesa do refeitório.
“Você sabe que ele não é mais meu namorado e por que diabos ela deixou o celular dela com a sua excelência?”
“Esqueceu na sala.”
“Você é um mentiroso!”
“Não estou mentindo! Pra que eu iria...”
Interrompi. “Você não está comendo.”
Silêncio. Ele olhou ao redor, mas não me viu.
“Estava, antes de você me atrapalhar.”
“Mentiroso... Não tem nada na sua mesa.”
Ele voltou a procurar com mais cuidado. Escondi-me atrás da pilastra como uma criança arteira.
“Você não está aqui. Como sabe? Ou melhor... Onde está escondida?”
“Não preciso te ver pra saber quando está mentindo.” Que belo casal de mentirosos formávamos. “E estou no mesmo lugar onde costumávamos nos encontrar tantas vezes...”
Silêncio. Comecei a caminhar até o depósito.
“Mentirosa!”
“Claro que não, por que não vem conferir?”
“Não preciso te ver pra saber quando está mentindo. Você não tem a chave, quem tem sou eu.”
Gelei, o que eu ia fazer parada do lado de fora do depósito? “Isso é o que você pensa...” Continuei com a mentira.
“Ok. Estou indo aí te ver.” Desligou.
Meus olhos devem ter soltado da cara. Corri até a porta trancada, lutando inutilmente para abri-la. Um arrepio percorreu por todo o meu corpo quando senti uma mão puxar o meu braço com o mal jeito que só uma pessoa poderia usar comigo e me deixar contente... Por isso a surpresa foi decepcionante ao encontrar um jovem franzinho no lugar.
“Me mandaram te dar isso.” Um pedaço de papel com uma chave dentro.
Ele me conhecia àquele ponto... Destravei a porta.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

20- Ajudada x Ajudando

Fiquei imóvel, consciente de que ele estava indo embora...
Indo embora?! Pra onde? Por quanto tempo?
Eu teria corrido atrás dele por toda a noite e para onde quer que ele fosse. Matheus não me deixou dar um passo, segurando-me firme pela cintura, enquanto eu me debatia para sair.
“Desculpa, Mari, mas eu não posso te deixar ir...”
“Você sabia, não sabia?! E eu pensando que...” Mas quem disse que não era mesmo um encontro mais intimo entre a Kate e o Scott? “Oh meu Deus!” Senti meu corpo se desmanchando nos braços do Matheus. “Então era isso?”
“Matheus, larga a Mariana.” Kate se pronunciou, ainda da porta de seu quarto. “Venha, Mari... Deixa eu te contar o que aconteceu.”
Olhei para Kate, procurando qualquer sinal de que sobreviveria àquela conversa.
Assim que a porta foi fechada, não pude deixar de sentir meu estômago se revirar pensando em todas as vezes em que o Scott esteve sozinho naquele quarto com a Kate.
“Senta aí. Vai ser uma longa conversa.”
Fiz como ela pediu.
“Eu já bebi um bocado hoje, mas preciso de muito mais para perder o controle de minhas ações. Por isso não pense que não sei a gravidade do que vou te contar.”
Passaram milhares de possibilidades pela minha cabeça. A maioria envolvendo eles dois e nenhuma roupa.
“Eu fui estúpida o suficiente para contar ao Scott quem é o pai da minha filha. Consegui levar essa questão por bastante tempo sem problemas, porque ele acreditou em mim, quando eu disse que não sabia quem era o pai...”
“Você não tem que me contar, Kate.”
“Eu sei, Mariana, mas não posso esperar que você confie em mim, se eu não confiar em você.”
“Por que você quer ter uma relação de confiança comigo? Por que você se esforça tanto pra que eu e o Scott fiquemos juntos?”
Ela inspirou. “O Scott é o meu único amigo, Mariana. Eu não queria ter que me prender a ninguém de forma alguma, mas acabou sendo inevitável. Ele é importante pra mim, você é importante pra ele, então, você também é importante pra mim. É confuso, eu sei, mas acho que sentimentos não precisam de explicações, motivos nem sentido, então...”
Senti minha face corar diante daquela confissão.
“O pai da Colli é o nosso antigo diretor Ákyl.” Ela parecia quase tranquila ao dizer.
Não pensei que fosse ouvir o nome desse desgraçado novamente. Depois de tudo o que ele fez com a minha amiga Sally, mais essa...
“Contei pro Scott num momento de desespero. Esbarrei com o Ákyl lá no meio do nada onde eu estava morando com a Colli e meus avôs. Ákyl já sabia da Colli... Começou a perguntar sobre ela e quer vê-la. Chegou a me ameaçar. Dizer que iria encontrar a minha filha de qualquer jeito.”
Ela apertou seus lábios. “Falei com o Scott, ainda desesperada, por telefone. Dizendo que ia esconder a Colli e meus avôs e que voltaria para o colégio. Acabei contando o motivo... Não sei como ele não fez nenhuma estupidez na época.”
Tanta coisa que eu mal fazia ideia...
“Ele esteve por esse tempo atrás do Ákyl. Scott não quis me dizer o que fez para assustá-lo, mas garantiu que funcionou... Agora quer trazer a Colli para o Brasil.”
“Isso não é bom?” A discussão entre os dois não fazia sentido.
“Claro que não, Mariana. Não posso assumir a Colli assim... Fora que... E se o Ákyl quiser fazer algum mal ao Scott por isso? Esse menino é muito inconseqüente!”
Gelei com a ideia. “Mas... Se ele garantiu...”
“Não sei, Mari... Mas ele não deveria ter feito nada disso sem antes me consultar.” Kate bufou. “Talvez eu esteja exagerando também, mas tenho alguma razão... Ele faz todo um drama saindo do colégio do nada e voltando do nada também.”
Foi quando entendi a sua irritação...
“Mas ele está de volta agora, né...”
“E sobre isso... Não acho que ajudou muito ele ver você abraçada com o Matheus depois de todo esse tempo ausente. Matheus ainda tentou conversar com ele, mesmo sem conseguir mais do que uma resposta mal criada, ele contou que vocês já não estão mais juntos. Scott precisa superar isso... às vezes ele consegue ser pior do que uma criança.”
“Como você está, Kate?”
Ela ficou um pouco perdida com a minha pergunta. “Estou bem...” Mentiu descaradamente.
“Não sei o que faria no seu lugar... Você foi muito corajosa.”
“Não fui não, Mariana. Se você fizesse ideia de tudo o que se passa aqui dentro...” Ela colocou a mão sobre seu coração.
“Se arrepende?”
“Ah... Se me arrependo de ter dormido com o diretor e engravidado dele? Claro. Se me arrependo de ter deixado a Colli nascer? Não. Mas...”
“O quê?”
“Não nasci pra isso. Não sou boa mãe. E toda vez que olho pra ela, penso se não estou privando ela de um futuro feliz.”
“Não diga uma coisa dessas! Você é mãe. Já foi tão longe em tudo isso... Ela não poderia ter tido mãe melhor.”
Ela deu um sorriso torto. “Você pensa assim porque tem uma boa mãe. Eu... Não posso continuar com isso. Não posso ser como meus pais. Não posso amá-la o quanto ela merece e precisa, Mariana... Não é justo que ela cresça dessa forma. Não posso viver essa vida de papai e mamãe. Eu só queria que o Scott não fizesse com que eu me sentisse tão errada ao querer dá-la para um lar adotivo.”
“Isso não é da conta dele, Kate. Mas eu acho que você já é uma boa mãe.”
“Não adianta tentar explicar pra vocês. Mas eu só vou ser uma boa mãe, quando eu conseguir amá-la o suficiente para nunca mais...” Ela começou a chorar. “Eu preciso conseguir não ser egoísta!”
Fui até ela e a abracei. “Você não tem nada de egoísta, Kate...”
“Eu sou tão jovem e linda, Mariana! Não é justo! Não quero me casar! Não quero viver com a barriga no fogão cozinhando pra ninguém!”
“Kate...”
“Você tem que ver o sorriso da minha filha... Seus olhos grandes... Falta me deixar surda quando começa a chorar... E tudo isso... Faz com que eu queira estar lá por ela o tempo todo. Dançar, conhecer gente, parece uma coisa tão idiota quando sua mãozinha pequenina agarra meus cabelos. Mas eu não quero depois culpá-la por ter mudado meus planos por ela. Não quero fazer tudo o que me der vontade na vida e só me certificar de que ela continua viva em casa, sozinha ou enchendo a casa de estranhos. Não posso ser como eles...”
Meus problemas eram piadas diante de tudo aquilo. Kate chorava como uma criança nos meus ombros. E por mais que ela tivesse dito não estar bêbada eu não conseguia imaginá-la fazendo todas aquelas confissões para mim estando sóbria.
“Se você nunca tentar ser melhor do que eles, você nunca será.” Não foi algo assim que ela me disse antes?
“Eu tenho tanto medo...” Ela mal dizia, já quase adormecida.
Saí do sofá com cuidando, a inclinando sobre o mesmo. Eu peguei a coberta de sua cama e coloquei por cima dela no sofá. Kate pegou a minha mão. “Não me deixe só...” Pediu com seus olhos fechados.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

19- Vontade x Ação

Não tinha que me preocupar com meus pais, porque eles já tinham ido na frente para Primavera, deixando que eu fosse com as meninas mais tarde. Eles terem me permitido tão facilmente ter uma noite de garotas com minhas amigas só provava o quanto eu deveria estar parecendo péssima.
Dei uma olhada na sala, tentando achar minhas roupas. Já estava subindo as escadas quando vi pela janela da cozinha várias peças de roupas espalhadas na beira da piscina. Desci e fui catar minhas roupas.
Depois de limpa e vestida, resolvi que seria bom preparar um almoço para todos. Não demorou e todos acordaram sentindo o cheiro de comida.
Fiquei ainda menos preocupada sobre a noite anterior ao ver a tranquilidade no rosto da Yasmin.
Estávamos todos sentados ao redor da mesa com pratos cheios da mistura que fiz.
Sally deu um longo suspiro depois da primeira garfada. “Mari, tudo que você faz fica simplesmente maravilhoso!”
“Ela tem cara de quem faz comida boa mesmo.” Vítor.
Sally ergueu uma sobrancelha. “Como se existisse cara pra isso.”
“Claro que tem. Você não tem cara de quem cozinha bem... aposto que não cozinha bem.”
Sally que esteve radiante desde ter dado de cara com o Vítor seminu ao acordar, estava prestes a fulminá-lo apenas com o olhar. “Não se preocupe com isso, você nunca saberá.”
“Acertei...”
“Então...” Matheus deu fim à discussão. “Alguém tem ideia do que aconteceu ontem?”
“Eu tenho algumas idéias...” Kate sorria maliciosamente.
“Eu lembro de tudo.” Yasmin começou. “Vocês estavam assustadores na festa. Tudo começou com a Kate e a Sally dançando em cima da mesa.”
“Ah! Disso eu me lembro muito bem!” Vítor interrompeu.
“Aí vocês dois.” Yasmin apontou o Matheus e o Vítor. “Também entraram na brincadeira. E quando vi que vocês já estavam passando do ponto, achei melhor trazê-los para cá. Pularam na piscina e acabei sendo convencida a entrar também...” Suspirou.
“Precisamos repetir mais vezes.” Kate.
“Concordo!” Sally e Vítor disseram em coro e se olharam com desgosto logo em seguida.
“O que dizem de hoje à noite?” Kate.
“Vou estar em Primavera...”
“Eu e a Min também...” Sally.
“Nós também vamos.” Matheus.
“Então uma festa pode nos aguardar?” Kate.
Sally comemorou. “Claro! Já vou indo lá em casa pegar minhas coisas...”
“Não vai terminar de comer?”
“Tive uma ideia!” Sally. “Estamos indo todos para o mesmo lugar, que tal então irmos juntos?”
Todos se entreolharam.
“Boa ideia, garota!” Vítor.
“Eu sei, garoto...”
***
Estava me preparando mentalmente para descer pela varanda do meu quarto quando me deparei com o Matheus já me esperando lá embaixo, pronto para me chamar. Por um instante eu poderia ter dito ser o Scott. Matheus estava no mesmo lugar, com o mesmo gesto em que o Scott já esteve tentando me convencer a descer.
Alguém que só quisesse brincar com meus sentimentos teria ido tão longe? Teria dito aquelas três palavras com tanto desespero? Poderia ter um olhar tão triste ao ouvir meu não?
“Mari?” A voz do Matheus me trouxe de volta de meu devaneio. “Você está bem?”
“Na verdade não, Math. Acho que não vou mais.”
“Então eu vou ficar com você.”
“Não... Eu só preciso ficar sozinha um pouco.”
“Tem certeza? Porque não me incomodo.”
“Vou ficar bem. Vai lá pro pessoal e peça desculpa a todos por mim, por favor.”
Voltei para dentro do quarto. Peguei meu celular. Só então me dei conta de que não poderia ligar para o Scott, sem seu número; tinha deixado o papel dentro da gaveta do meu dormitório em Almerim...
“Mas que droga!”
Sentei na cama e respirei profundamente. Joguei meu corpo sobre a cama. A expressão desolada do Scott a me ver com o Matheus, atingiu-me em cheio. Com um movimento levantei da cama e já estava pendurada na grade da varanda.
Kate tinha o número do celular do Scott, certo? Então, ficaria tudo bem...
Já não tinha mais fôlego depois de tanto correr para chegar à casa da Kate, onde estava tendo a festa. Passei espremida pela multidão, procurando a Kate.
Vi o Matheus. “Math? Você sabe onde a Kate está?” Gritei, lutando contra a música alta.
A surpresa em seu olhar era maior do que esperava. “Ela está lá em cima, mas...”
“Obrigada.” Voltei meu caminho para alcançar o segundo andar.
Levei um susto quando senti a mão do Matheus tocando meus ombros antes que eu pudesse chegar ao quarto da Kate, no corredor.
“Não vá.”
“Ah!” Como não tinha pensando nisso antes? Afinal, por que diabos Kate estaria trancafiada em seu quarto com uma festona rolando em sua casa? “Ela não está sozinha...” Levei minha mão à testa.
“É...”
“Oh, Math...” Abracei meu amigo que estava nitidamente sofrendo.
“O que te fez mudar de ideia?”
“Mudar de ideia?”
“Você tinha dito que não vinha...”
“Ah! Eu só quero pedir algo à Kate. Não vou ficar.”
“Melhor deixar pra amanhã, não acha?”
Passei a mão em seus cabelos, ainda o abraçando. A música não era tão alta no andar de cima, por isso ouvi claramente o som da porta se abrindo com força demais logo atrás de mim.
“Esquece! Deveria ter previsto isso assim que vi o seu estado. Conversamos depois quando você estiver sóbria.”
Matheus afrouxou seus braços de mim no mesmo instante. Eu não precisei olhar para trás para saber que não estava louca, que não era uma alucinação. Meu coração tinha sumido juntamente com cada pedaço do meu corpo que eu já não conseguia sentir mais.
“Não venha me chamar de bêbada! Não pense que...” Kate gritou e parou abruptadamente.
Procurei forças para me virar apenas para ver o Scott já passando por mim, ignorando completamente a minha presença.
Poderia ele não ter me visto?
As lágrimas já desciam. Cada parte de mim comemorava poder vê-lo novamente.
Sim, eu o amo... Amo... Mais do que deveria e menos do que gostaria.
“Scott!” Chamei.
Ele continuou andando e dei mais dois passos em sua direção. “Scott! Eu quero falar com você!”
Scott parou e virou-se. Eu podia morrer naquele momento.
“Não. Você não quer conversar comigo, acredite. Só me esqueça.”
É... Eu realmente podia morrer naquele momento...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

18- Verdade x Consequência

Na noite seguinte, Kate veio até mim. “Mariana, você e o Math voltaram?”
“Não... Por que pensou isso?”
“Não... é que... vocês não estão mais com a gente nos intervalos e sei lá... Passou pela minha cabeça essa possibilidade.”
“Ah... É...” Eu não podia dizer a verdade, podia?
“Escuta, Mariana, eu estava irritada quando te disse aquelas coisas, então não guarde nada daquilo.”
“O quê?”
“Quando você foi lá em casa...”
“Ah... Tudo bem, você estava certa mesmo.”
Silêncio.
Kate se acomodou em sua cama. “Você o ama?” Não precisava dizer que era o Scott.
Silêncio.
Fiquei surpresa com o poder daquela pergunta. O frio pelo meu corpo, o calor nos meus olhos.
“Amo...”
“Então, por que não tenta ligar pra ele?”
Porque essa ideia simples não tinha passado pela minha cabeça até então, pra começar. “Nem tenho mais seu número e... por que ele me atenderia? O que eu posso dizer por telefone?”
“Você nunca vai saber se não ligar.”
“Mas se ele saiu mesmo por minha causa...”
“Então te pergunto novamente, Mariana. Você ama o Scott?”
Olhei para ela e sua expressão era serena. “Vou anotar pra você o número dele.” Levantou-se e rabiscou um pedaço de papel. “Vou deixar aqui em cima da mesa, aí você pensa direito no que te perguntei e na sua resposta. Faça a sua escolha guiada nisso e em nada mais. É tudo o que eu posso fazer por você... E por ele.”
Saiu do quarto.
Por que ela insistia tanto em nos ajudar? Eu nunca teria feito um terço... Talvez fosse isso que tivesse feito um rapaz como o Matheus ficar tão apaixonado por ela, apesar de tudo. E quem sabe eu não pudesse retribuir? Isso... A ideia de dever alguma coisa a Kate era desagradável. Como Kate conseguiu abrir mão do Scott se ela se importava tanto com ele? Queria conseguir ser assim.
Encarei o pedaço de papel sobre a mesa. Eu só precisava discar, certo? Mas, então, achei que fosse hora de ponderar. Afinal, eu tinha desejado por tanto tempo que o Scott sumisse de minha vida, porque ele bagunçava tudo. Eu tinha conseguido. Talvez eu devesse apenas esperar a dor passar e seguir em frente. Ele sempre é tão rebelde e encrenqueiro... Como eu poderia viver com alguém assim? Muito problemático. Eu o amaria o suficiente para arriscar? Eu realmente o amava? Um amor que pode sobreviver a tudo? Se é que isso existe...
Peguei o papel. Meu celular vibrou e saltei com o susto. Era a Sally.
“Mari!” Cantou.
“Oi, maluca!”
“Hoje é sexta-feira. Festa de pijama. Eu, você e a Min na casa dela. Agora.”
“Ela sabe disso?” Se tratando de Sally...
“Acabou de ficar sabendo. Já estou terminando de me arrumar e passo aí pra gente ir juntas.”
“Ok.”
Abri a gavetinha da mesa e joguei o papel, com o número do Scott, dentro.
***
“Olha o que eu trouxe pra nossa pequena festinha?” Sally puxou da mala uma garrafa de bebida. E eu me perguntando pra que uma mala pra passar uma noite fora, o que mais teria?
“O que houve com nossas festas de pijamas com pipoca e filme até tarde?” Yasmin.
“Aconteceu que estou precisando de menos drama e mais ação.” Sally.
“Ótimo! Pode encher um copo, então, porque também estou precisando.”
As duas me olharam surpresas.
“Ela bebeu no caminho?” Yasmin.
“Ainda estou procurando pelo sarcasmo, mas melhor aproveitar que ela já entrou no ritmo.” Sally.
Ri. “Então, como vai ser?”
“Música, bebida e verdade ou consequência, mas esqueçam as consequências de quando eram crianças...”
“Perfeito.”
“Se até a Mari topou...” Yasmin.
***
“Não acredito! Ela agarrou o cara mesmo!” Sally dizia entusiasmada com o meu feito recente na boate.
“Desafio cumprido.”
“Ele ainda está olhando pra cá.” Yasmin.
“Sua vez, Ly.”
“Também quero uma consequência legal!” Acho que nós duas competíamos o título de mais bêbada e louca.
“Te desafio a...” Olhei ao redor. “Aqui não dá.” Olhei para elas de volta. “Não sabem de nenhuma festa do pessoal da escola?”
“Agora você realmente me assustou.” Yasmin era a única sóbria. “Sabem que não vou fazer nada dessas maluquices, né?”
“Relaxa, Min...” Joguei meus braços nos seus ombros. “Pode deixar que eu e a Sally nos divertimos por você. Não é, Ly?!”
Sally imitou meu gesto do outro lado da Yasmin. “Sei de alguém que pode nos ajudar...”
***
“Caraca! Vocês estão muito doidonas!” Kate ria.
“Tem certeza que não tem problema?” Yasmin.
“O quê? Vocês? A festa não é minha, mas quanto mais gente mais diversão... Então... Só venham comigo.”
“Kate é tão legal, né? Quero ser que nem ela quando crescer...” Eu realmente disse.
“É... Será que a gente consegue essa cor de cabelo?” Sally.
Kate gargalhava. “Yasmin, que droga elas tomaram?”
Yasmin riu. “Deve ser a combinação da loucura natural, porque nem beberam tanto assim... Eu acho...”
“Kate, quer brincar com a gente?” Sally perguntou.
“De...?” Kate.
“Verdade ou consequência.”
“Está mais pra consequência e consequência, Kate.” Yasmin corrigiu.
“Desafio é o mais legal...”
“Por que não? Então, qual é o meu desafio?” Kate.
“Você e a Sally...”
***
Estava tudo laranja quando abri os olhos. Levei um tempo até me dar conta de que era o cabelo da Kate. Estávamos todas na casa da Yasmin, espalhadas no tapete da sala.
As dores na cabeça e no estômago foram como um déjà vu. Mas o susto maior veio quando resolvi olhar com mais atenção ao redor. Matheus e o Vítor estavam entre a gente. Todos nós somente com roupas de baixo e a casa parecia uma zona com garrafas vazias pelos cantos.
Há algum tempo essa visão teria me desesperado, mas, naquele momento, levantei sorrindo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

17- Sim x Não

No intervalo foi a vez do Matheus desabafar comigo.
“Mari, você pode me fazer companhia?”
“Sempre comemos juntos...”
“Sim, eu sei... Mas hoje eu não vou ficar com eles...”
Fui com ele até outro canto do refeitório. “Vai me dizer o que aconteceu?”
“Não quero mais isso.”
“Isso o quê?”
“Não vou mais esperar por um milagre para a Kate decidir namorar comigo.”
“Mas pensei que vocês estavam se dando bem. Você me disse que estava.”
Ele mexeu no pacote de biscoito sobre a mesa. “Também disse que não do jeito como eu queria.”
“Não entendo, Math. Já vai desistir?”
Seu olhar era severo quando pousou em mim. “Não aguento vê-la cada hora com um cara diferente. Se entregando para qualquer um facilmente... Não tenho sangue de barata, Mari.” Jogou a cabeça nas mãos. “E também tem o Vítor que mata e morre por ela. Melhor eu não estragar as coisas com ele também.” Voltou a me olhar, mas com sua feição mais suave. “Estou bem. Só preciso me afastar um pouco deles pra não ficar mal, se é que me entende...”
Coloquei minha mão sobre a dele. “Se você tem certeza de que é isso que quer...”
Matheus tirou sua mão debaixo da minha e entrelaçou nossos dedos. “E você... Conseguiu fazer a tal matéria?”
“Vamos fazer o seguinte? Eu não falo sobre a Kate e você não fala sobre ele.” Evitei dizer o nome.
“Certo.” Pegou o saco de biscoito e me ofereceu. “Não sabia que dançava daquele jeito...”
***
Já tinha dado a hora de recolher e eu estava dormindo quando meu celular tocou.
“Alô?”
“Te acordei?”
“Ah, Math... Tudo bem, pode falar.”
“Desculpa, mas estava pensando se você não gostaria fazer alguma coisa agora?”
“Além de dormir?”
Ouvi sua risada. “Sair, sei lá... Não consigo dormir.”
Olhei o relógio. “Tem ideia de que horas são?”
“Sim, eu sei...”
“Math, conte carneirinhos e vai conseguir dormir.”
“Tudo bem, vou nadar, então.”
“Nadar?”
“É...”
“Já está tudo trancado, Math. Tem certeza de que você já não está dormindo?”
“Não está tudo trancado pra mim que tenho copias de chaves...”
“Como... Você... Mas e se te pegarem?”
“Isso não vai acontecer, porque estão todos no quinto sono a essa altura.”
“Nadar à uma hora dessas... Só você.”
“É a melhor hora, sem ninguém pra incomodar. Bem, então vou lá... Completamente sozinho e abandonado... Sem uma companhia sequer...”
“As aulas de teatro estão te deixando um belo dramático.” Respirei fundo. “Se eu quisesse ir com você, como eu sairia daqui?”
“Eu te buscaria agora mesmo.”
“Bem, então estou te esperando.”
“Já cheguei... Abre a porta.”
Vi uma luz baixa do outro lado da porta. Abri e lá estava aquele gigante com uma lanterna na mão.
“Eu devo estar louca.”
Não posso negar que foi divertido sair escondida do dormitório.
Matheus começou a tirar a camisa e a calça, ficando apenas de cueca. “Não vai vim?”
O não estava bem na ponta da minha língua com alguma desculpa qualquer, mas já tinha passado da hora de começar a dizer mais sim. “Agora mesmo.” Tirei meu pijama e me juntei a ele na piscina.
Começamos a rir da travessura. “Se alguém nos pegar... Não quero nem imaginar.”
“Então não imagine. Só aproveite.” Afastou-se. “Será que consegue ser mais rápida?” Desafiou-me.
“Pode apostar.” Mergulhei com vontade.
Só me dei por vencida quando já não era mais capaz de respirar. “Um cavalheiro sempre deixa a dama vencer.”
Ele gargalhou. “Na próxima eu deixo.” Aproximou-se.
“Amanhã temos aula cedo. Melhor irmos logo.”
Ele me olhava de uma forma completamente nova. “Você é tão linda...” Tocou meu cabelo.
“Math...”
Ele se aproximou ainda mais, pronto para me beijar.
“Não, Math... Isso não deu certo da última vez.”
“É...” Ele beijou o canto dos meus lábios.
“Você continuou sem esquecer a Kate e eu o Scott...”
“Foi...” Beijou o outro canto dos meus lábios. Seu hálito fresco fazia meu corpo mole.
“E...”
“E não importa...”
Beijou-me. Esperei pela dor... Dor de trair meus sentimentos. Dor de estar dizendo sim... Mais um sim que não é para o Scott. Dor de poder ter todos aqueles beijos e mãos e pernas do Matheus, mas não do Scott. Dor de não ver o mundo acabar, chorar e sofrer pela falta do Scott como o meu mundo morria a cada segundo...
“Matheus... É melhor a gente ir dormir.” Interrompi nossos beijos.
Matheus ainda ofegava. “É, temos aula amanhã...” Ele disse sem graça.
Quem não conseguiu mais dormir fui eu. Catei meu notebook e comecei a escrever.
Como você está, Scott? Está feliz? Será que ainda pensa em tudo o que deixou para trás? 
Tenho me feito tantas perguntas... Fico imaginando... Pensando em você. 
Pensava em você como uma rocha, mas deveria ter visto que a rocha era eu. Porque você é o rio... Insistindo incansavelmente em entrar no meu coração. Fazendo a rocha dois pedaços e seguindo seu caminho por ela. Porque um rio nunca para... Poderia ter você me feito em pedaços menores para que eu me tornasse tal como a água e seguisse o caminho com você?
Consigo até ver seu sorriso zombando da minha metáfora brega. E veja... Sinto falta até mesmo disso. 
Eu odiaria te ver mal, Scott, mas, honestamente, não quero que você esteja bem sem mim. Preciso te lembrar de todas as vezes em que você disse me amar? Não era pra sempre? Não era você que nunca desistiria? Por que fugiu, então? 
Agora já não faz mais sentido dizer isso, mas eu daria tudo para poder estar com você e te dizer o quanto te amo, o quanto sinto a sua falta, o quanto me arrependo por tudo...
Eles se perguntam por que você sumiu e querem que eu os responda. O que eu poderia dizer-lhes? Teria sido o meu egoísmo ou o seu orgulho? Eu não quero essa resposta. Só quero você. Só quero o que já não posso...
Deixei salvo o meu desabafo melodramático.