segunda-feira, 20 de junho de 2011

1- Ela x Ele

Já estava escurecendo; só notei quando senti dificuldade em continuar minha leitura. Suspirei. Poder me isolar no meio do campo com algum livro era o que eu mais amava em passar as férias na fazenda dos meus avôs. Insisti um pouco em continuar lendo.
“Ele está sempre, sempre, no meu pensamento. Não por prazer, tal como eu não sou um prazer para mim própria, mas como parte de mim mesma, como eu própria.” Emily Brontë – O Morro dos Ventos Uivantes.
Já tinha perdido as contas das vezes em que li aquele livro. Simplesmente amava. Tantos livros separados esperando que eu os lesse, mas era só bater os olhos em Morro dos Ventos Uivantes e não conseguia resistir a lê-lo novamente.
Eu entendia melhor do que desejava o que a Cathy queria dizer naquele trecho do livro.
Nem mesmo meu casaco poderia contra o frio que fazia naquele campo ao final da tarde. Ainda tinha uma boa caminhada até o meu quarto na fazenda.
Encontrei a minha mãe colocando comida na mesa, e a julgar pela quantidade ela esperava um batalhão. “Onde você estava, Mariana? Você podia ter me ajudado a preparar a janta; já estou servindo. E a Yasmin ligou procurando por você.”
“Desculpa. Estava pelo campo.”
“Ah, deixe a minha neta, Myrian. A culpa de ficar atarefada é sua mesma, fica insistindo em fazer comida e ainda faz essa tonelada... Os empregados que agradecem a folga da cozinha quando você está aqui.”
“Não estou brigando com ela, mãe. Só acho perigoso ficar até tarde por aí. Olha o tamanho desse lugar... Eu fico preocupada.”
“Ah, está bem, Myrian. Chega de conversa furada. Estou faminta!”
“Mariana, vá chamar o seu pai e lave as mãos para jantarmos.” Minha mãe podia dar a ordem que fosse, mas sempre tinha aquele tom doce na voz.
“Isso, Mariana, vá chamar o anti-social do seu pai.” Minha vó não perdia uma oportunidade de implicar com o meu pai.
“Mãe...” Minha mãe pediu.
“Tá! Não vou dirigir a palavra a esse trast... adorável do seu marido, querida. É a penúltima noite de vocês aqui, posso aturar a presença dele em prol da saudade que já começo a sentir da minha netinha querida que-não-vai-seguir-o-mesmo-caminho-que-a-sua-mãe-se-casando-com-um-desqualificado...” Minha vó alisou meu rosto.
“Ah, não, mãe. De novo não. Se ele ouvir isso, vão começar a discutir novamente. Vocês nunca se cansam? Por Deus!”
“Isso só prova o quanto falta bom senso a ele. Discutir com uma senhora na minha idade é uma tremenda falta de respeito e você sequer se importa, filha...”
“Mãe... Vocês se comportam como duas crianças. Chega de drama e venha se sentar que já coloquei seu prato na mesa.” Minha mãe se virou para mim. “E você vá logo chamar seu pai... E não esqueça de lavar as mãos.”
Revirei os olhos. “Dezessete anos, mãe...” Lembrei-a da minha idade, falando devagar, enquanto ia atrás do meu pai.
Encontrei meu pai nos fundos da casa, com um machado na mão e tocos de madeira espalhados aos pedaços pelo chão.
“Pai, mamãe já está servindo a janta. Estamos te esperando.”
“Oh, filha. Não te vi aí.” Disse enxugando gotas grossas de suor que lhe desciam a testa.
“Não está um pouco tarde pra cortar lenha, pai?”
“Só vou empilhar esses aqui com o restante e estarei na mesa em um segundo.”
“Vovó te deixa mesmo estressado, não é, pai?”
Ele me deu um sorriso cheio de dentes. “É melhor você ir na frente. Não vou demorar.”
A verdade é que minha vó nunca aceitou bem o fato da minha mãe ter escolhido o meu pai – filho de um empregado da fazenda dos meus avôs – ao invés de todos os outros, renomados e de futuro promissor nos negócios, pretendentes. A rixa deles agora era mais uma forma de dizer “Não vou dar o braço a torcer”. Eles se gostavam, só que, pelo visto, nunca iriam admitir isso.
Meu pai detestava discutir com a minha vó na minha frente e na frente da minha mãe, mas minha vó, sabendo disso, aproveitava cada oportunidade. Eles tinham as discussões mais bobas do mundo, como minha mãe dizia “Duas crianças”.
***
Era meu último ano escolar; pensar nisso me deixava agitada. Estudar naquele colégio foi o melhor presente que minha vó poderia ter me dado - meus pais por si mesmos não teriam como pagar as mensalidades absurdas. Colégio Elite era uma maravilha em qualquer currículo. E ali estava eu, concluindo um sonho.
Ainda faltavam duas semanas para o fim das férias escolares, mas retornei ao colégio mesmo assim. Queria estudar o quanto pudesse para o vestibular no final do ano.
Depois de terminar de arrumar as minhas coisas no meu quarto, estava faminta. Mal tive tempo de observar o calendário escolar ou dar uma espiada nos nomes dos meus colegas de classe nem mesmo ver com quem dividiria o quarto.
Fui até o refeitório. Ele foi o primeiro rosto que vi e o único; era sempre assim. Eu odiava o gelo profundo que isso causava no meu estômago. Fingi não ter notado que ele sorriu deslumbrante ao me ver. O que logo ele estava fazendo no colégio em plenas férias? Caminhei até a comida.
Eu e o Scott éramos água e fogo, yin-yang, tigre e dragão, céu e inferno; essas combinações não terminavam bem. Despertávamos o pior no outro. Queria fazê-lo sumir e pelas faíscas em seus olhos eu sabia que ele também queria que eu sumisse. Isso não era sadio, era insano... horrível. Eu fiz de tudo para manter-me longe dele. Usei as desculpas mais confusas para isso e ainda assim... Era só sentir aquela respiração abafada no meu pescoço que eu não resistia. Por que ele não fingia que eu não existia também?
“Vou fazer de conta que não vi você me ignorar completamente agora há pouco, só porque estou feliz por te ver novamente.” Se eu já não conhecesse bem demais aquela voz e aquela maneira presunçosa de falar, o arrepio pelo meu corpo teria me avisado.
Não o encarei, tentei me concentrar em pegar um prato e falar ao mesmo tempo. Com ele colado na minha nuca eu mal lembrava o meu nome. “Só estava tentando não estragar o meu dia, o que não adiantou.”
Eu quase podia ver o sorriso rebelde nascendo em seu rosto. “Se você parar de brincar com esse prato, nós podemos ir pro depósito e estragarmos o dia um do outro.” Ele insinuou, passou uma mão no meu cabelo e eu afastei.
“NÓS não vamos para lugar nenhum, Scott. EU vou almoçar e VOCÊ vai voltar pra onde estava.”
“Mari, precisamos conversar sobre o que está acontecendo com a gente.” Ele disse cansado.
“Nós não nos suportamos, aposto que o colégio inteiro já sabe disso, Scott. Não precisamos conversar sobre o óbvio.”
Ele forçou uma risada. “Péssima tentativa de ser engraçada, Mariana. Porque mesmo sendo óbvio o que fazemos trancados no depó...”
“Ei! Shi!” Soltei o prato na bancada e voei minhas mãos para tapar a sua boca, que tirei assim que vi seu olhar divertido. “Alguém pode ouvir; ficou louco?” falei muito baixo. “Passei as férias inteiras tentando esquecer essa tragédia.”
Ele revirou os olhos. “Por que você se faz de tão difícil, Mari? Não podemos namorar como todo casal apaixonado normal faz?” O que nós dois tínhamos de normal mesmo? E ele não se cansava de me torturar?
Falam que opostos se atraem e que se completam, mas ninguém fala sobre o eterno desentendimento entre essas forças.

8 comentários:

  1. Pai e avó se gostam e vivem brigando... a Mari tem escola em casa sobre esse assunto.... aushuahsuahsuhauhs
    Ei, o q eles fazem trancados no depósito =O

    Enfim ano V *---*


    Bjoos bruxa doida ;*

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  2. Oba! Começou! \o/ E já começou pegando fogo! Hehehehe

    Ei, o que houve no depósito? Eu até posso imaginar... sinis*

    O pai dela não era professor de Educação Física na escola? Ainda é?

    Bjks!

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  3. Também quero saber o que houve no deposito pensa....kkkkkkk
    A voh da Mari é engraçada, adorei ela *-*
    Mari mais brava que nunca \o
    Estou adorando Suh...

    Beijos

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  4. Aaaaaaaaah, quer dizer que apesar do suposto ódio todo entre os dois, andam se encontrando escondidos no depósito, né? 2hehe
    Mas concordo com o Scott... Se os dois se gostam, por que têm que viver isso escondido?
    E agora entendi com quem a Mariana aprendeu a ser implicante, tsc tsc.
    Tenho certeza de que vou amar mais essa temporada, Suh!
    Beeeeeeeeijo.

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  5. Ok... Depósitos... Escondidos... Entendi tudo!
    Até o medo que a Mari tem disso tudo.

    AMEI!
    bjosmil! *o*

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  6. Deh, kkkkkkkk, e comoo!
    Se a Mari não disse, eu que não vou. *hoho
    Finalmente! \õ/
    Bjuus, bruxa chefa =*
    -
    Sim, Pah! \õ/
    kkkkkkkkkk
    Fácil imaginar, né? *hoho
    Ele ainda é, Pah.
    =*
    -
    Vih, nhaa, preciso mesmo dizer? *lala
    A vó da Mari é doida, mas é uma boa pessoa.
    Adoro que você adore! *w*
    -
    "Entre tapas e beijos", Dindi... Esses dois não têm jeito. uu'
    Está no sangue, kkkkkkkkk. =P
    Aiin, Dindi! 6love
    bjuus! kiiss
    -
    Né, Mita... *sinis
    Esses dois...
    Thanks! Bjuus =*

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  7. Mari!!! *-*
    Eu, particularmente, adoro esse jeito turrão dela...
    E tb quero saber o que se passou no depósito...
    Tenho a impressão que vou adorar essa temporada .lala.

    Beijos Amebilda!!

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  8. Lu!! õ/
    Depósito... Adoooro! kkkkkk
    *dedos cruzados*

    Bjus,Doente! =*

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