Toquei a maçaneta e respirei fundo uma vez antes de girá-la. Abri a porta apenas o suficiente para entrar e o fiz sem olhar muito adiante, não querendo ver aquele espaço sem o Scott lá, nem mesmo por uma vez sequer.
Ainda estava fechando a porta e tomando coragem quando senti uma força contra, tentando abri-la. Afastei-me. Scott entrou olhando para o chão, depois se virou para fechar a porta. Finalmente ele olhou nos meus olhos. Seu olhar era terno e tão cheio de saudades quanto os que eu encontrava no espelho.
Aquele par de braços fortes me envolveu. Ele aspirou profundo com seu nariz gelado tocando meu pescoço. Eu poderia ter passado a eternidade naquele abraço.
Scott me afastou um pouco, apenas para analisar meu rosto, acariciou-o antes de me apertar novamente em seus braços
“Senti tanto a sua falta...” Tive coragem de dizer, com nossos rostos lado a lado.
“Também...” E me apertou com mais força, antes de me soltar.
“Cheguei a pensar que nunca mais fosse te sentir tão perto de mim, depois do que você me disse sábado.”
Ele se encostou numa parede com seus braços cruzados, depois descruzou e me puxou para si. “Tem ideia do quanto...” Apertou com força meus braços. “Não suporto te ver com outro.”
Flashes dos meus momentos com o Matheus me apanharam. Como eu era suja. Eu não consiga me arrepender inteiramente de nada. Estive tão desesperada por não sentir a falta do Scott...
Repousei minha cabeça em seu peito. “Foram tantos maus entendidos, Scott...”
“Você me dizendo isso... Você pedindo pra me ver... Querendo conversar comigo... Não parece real.”
“Quando você sumiu...” Minha voz tremeu.
Scott segurou minha cabeça com suas mãos e sua expressão era de partir o coração.
“Você me confunde tanto. Tudo o que eu mais quero é poder estar sempre com você, Mari.”
Eu queria dizer as palavras. Era o momento perfeito e elas vivam gritando repetidas vezes dentro de mim. Meu coração batia muito forte. Era algo que eu deveria dizer olhando em seus olhos, eu sei, mas...
Ele me beijou. No início doce como nunca até se perder na intensidade de nossos desejos. O sinal para voltar à sala tocou, mas isso não nos interrompeu. O mundo podia acabar que isso não nos interromperia.
Puxei sua camisa por seu pescoço a fora. Ele me olhou cauteloso, ainda ofegante. “Aqui? Assim? Tem certeza?”
“Eu te amo, Scott.” As palavras saíram, finalmente.
Ele me puxou para si novamente com seus beijos maravilhosos. Parou de repente.
“Não. Eu não posso.”
“O quê?” Exclamei.
“Não quero que a sua primeira vez seja num depósito velho de escola. Fico feliz que queira, mas a gente não precisa ter tanta pressa...” Deu um beijo na minha clavícula.
Minha primeira vez...
“Vamos voltar pra aula agora? Acho que você nunca matou aula na vida, não quero ser o culpado.” Riu. “Ei, vai passar rapidinho. Não faz essa cara...”
Forcei um sorriso.
Durante as aulas minha mente não vagava no milagre de ter me rendido ao Scott, mas sim em como eu o contaria sobre a minha noite com o Matheus. Tudo isso, porque o disse uma vez no mesmo depósito, quando ele ‘insistia’ em ir para o próximo passo, que eu era virgem.
Num mundo perfeito, onde eu não fosse tão idiota... onde ele não fosse tão idiota, teria sido assim. Uma noite romântica e a minha primeira vez com quem eu amava tão perdidamente.
Se o Scott já tinha surtado com o fato de eu estar namorando o Matheus, só nos vendo abraçados e de mãos dadas, imagina quando ele soubesse que compartilhei um momento tão especial da minha vida com outro?
Pensei em mentir. Podia fazer isso. Podia fingir. Seu orgulho não seria ferido e tudo ficaria bem, menos a minha consciência. Passei todas as aulas refletindo sobre isso e, então, decidi-me. Não iria esconder a verdade do Scott. Não era questão de poupá-lo, ou me poupar também - o que parecia a mesma coisa. Só não sabia quando teria a coragem de lhe confessar.
Mal levantei da cadeira para o segundo intervalo e o Scott já estava de prontidão ao me lado. Segurou firme na minha mão e não soltou mais. Perdi novamente a oportunidade de conversar com a Kate, mas isso tinha se tornado uma consciência distante. Todas as minhas prioridades eram o Scott. Decorar cada pedaço do seu rosto, suas expressões, seu movimentos, sua voz... Tudo sobre ele.
Passamos os intervalos entre os clubes também juntos. Era engraçado ver todos os olhares curiosos, uns surpresos, outros nem tanto, por me ver com o Scott.
“Tive uma ideia pra hoje.” Scott falou. “Me encontre na porta do dormitório daqui à uma hora.”
“Que ideia?”
“Surpresa.”
“Ok. Vou contar os segundos então.” Senti-me patética logo que disse, mas ele abriu um sorriso largo que me fez desejar ser patética mais vezes. O amor afeta mesmo as pessoas.
***
Já tinha passado meia hora do “daqui à uma hora” do Scott e nada dele aparecer. Mas eu já tinha esperado por ele muito mais. Esperei dias. Esperei semanas. Esperei meses. Esperei anos. Se eu dissesse que esperei por toda a minha vida, eu não mentiria; esperei sem ao menos saber que esperava.E quando aquela figura apareceu com um buquê de rosas na mão, saí correndo em sua direção com a fome de toda uma vida. Ele estava mesmo de volta! E pra mim! Comigo! Pulei em seus braços, ele me segurou no colo, com minhas pernas ao redor do seu quadril.
“Mari...”
Arranquei-lhe um beijo sem fim.
“Quando dizem que rosas funcionam, não estão mentindo...”
Ri com ele. Soltei de seu colo, sem vontade, e reparei em suas roupas. “Pra onde vamos?”
“Pra onde você nunca mais vai querer sair...” Disse ao pé do meu ouvido.
Não pude evitar o espasmo do arrepio. Ele me mostrou seu sorriso rebelde.
“Tudo bem, Sr. Irresistível. Leve-me para o paraíso.” Brinquei, oferecendo-lhe minha mão.
Ele a pegou e beijou. “É exatamente pra lá que quero te levar.” Insinuou, deixando-me completamente envergonhada.
“Você fica ainda mais linda assim.” Soltou minha mão. “Só um segundo.” Sumiu da minha frente.
Ouvi o som de um motor e lá estava ele num carro prateado. Saiu do carro, abriu a porta e esperou que eu entrasse.
“Estou começando a ficar realmente curiosa... Pra onde está me levando?”
“Ainda não estava? Acho que vou dar mais voltas do que o necessário para te deixar curiosa por mais tempo, então.”
“Faça isso.” Ameacei.
Ele soltou uma gargalhada. “Como o seu mau humor me fez falta, minha rabugenta linda.”
Fingi me importar, mas me venceu ao dizer que sentiu minha falta...
Enquanto ele dirigia para vai-saber-onde, gostei da minha visão privilegiada.
Ele sorria, percebendo que eu o encarava. Mas nunca parecia o suficiente. Tinha sempre um detalhe novo em suas expressões... E o mais incrível era o simples fato de poder vê-lo.
“Pronto. Chegamos.” Scott anunciou, parando o carro.
Senti minha boca se abrindo com a visão.