quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

28- Silêncio x Barulho

Chuva e frio... 
Foram longos dias assim.
Scott... 
Eu ainda esperava acordar e descobrir que tinha sido tudo um pesadelo.
***
Acordei numa cama de hospital. Não tinha ninguém comigo, nenhuma explicação, nenhuma notícia. Mas de alguma forma eu já sabia, só não queria acreditar que aquela dor no meu coração tivesse razão.
Quando meus pais passaram pela porta do quarto onde eu estava, eles choravam como crianças. Um doutor jovem os acompanhou, me examinou rapidamente e disse que eu estava bem. 
Um calafrio percorreu meu corpo. Eu reconheci aquele hospital. Foi onde há pouco tempo meus amigos também estiveram internados. 
“Me digam, por favor...” Esperava ansiosa por saber do Scott.
Quando meus pais trocaram olhares e pegaram na minha mão senti o mundo ficar distante. Eles abriam a boca, mas eu não os ouvia. Apaguei.
***
Eu deveria estar em sala de aula, mas tinha feito como todos os dias anteriores e ficado trancada no meu quarto. Olhei irritada pela janela o céu cinza e a chuva que insistia em cair.
Scott...
Fechei a cortina e voltei para debaixo das cobertas.
***
“Consegue se lembrar de tudo o que aconteceu?” O doutor me perguntou.
O olhar vazio do Scott me atingiu.
“Não precisa forçar, descanse um pouco mais. Depois conversamos, prometo.”
“Só me diz... Scott Meyer... como ele está?”
***
Já tinha perdido a noção dos dias quando minha mãe bateu na porta do meu quarto e entrou.
“Filha...”
Continue imóvel e muda, qualquer esforço parecia demasiado e completamente desnecessário.
Ela sentou-se na ponta da cama. Eu queria ficar sozinha novamente. Não queria ser consolada... eu queria sofrer até que não fosse mais possível.
“Mari... querida.” Alisou um dos meus pés por cima da coberta. “Eu e seu pai decidimos comprar uma casa lá pra perto de onde sua avó mora. Não é na mesma cidade, mas é uma cidade vizinha. Cercado por verde, você vai amar. Só vai levar mais um pouquinho de tempo para a mudança, porque ainda vai precisar de uma reforma, mas isso é o de menos. Vi um colégio pra você por lá... não é nada comparado com o Elite, mas também tem uma biblioteca que você vai amar.”
Não queria deixar Almerim.
“Está chorando, filha? Não gostou? Nós podemos ver outro lugar, se for o caso...”
Não tenho certeza, mas acho que disse repetidas vezes “Almerim” enquanto chorava caindo no mundo dos que - supostamente - sonham.
***
Tive medo de me recordar de detalhes do ocorrido e quando vi uma turma do colégio se aproximando do meu leito no hospital todos com capa preta, tão... Tive muito mais medo.
***
Minha mãe aceitou deixar de lado a ideia de nos mudarmos de Almerim com uma condição: que eu deixasse de ficar trancada em meu quarto. Não era nada justo, porque eu não sabia sequer como conseguiria passar pela porta de casa e encarar aquelas mesmas ruas... agora tão vazias dele. Mas ir pra qualquer lugar que não fosse ali me assustava muito mais.
Pensei no único lugar em que jamais estive com o Scott em Almerim. O único lugar onde eu poderia deixar o tempo passar sem grandes traumas até poder voltar para casa deixando a minha mãe convencida de que eu estava melhorando.
Comecei com passadas tímidas pelo caminho, mas em cada centímetro daquelas ruas eu me via com o Scott. Corri e acelerei mais e mais até que já sem fôlego cheguei à livraria repleta dos meus preciosos clássicos da literatura.
Passei pela porta e todos me encaram. Os rostos conhecidos me incomodaram. Eles sabiam demais.
“É ela mesmo?” Ouvi alguém perguntar.
Eu não sabia mais como parecia, mas a julgar por como me sentia...
Mais a diante reconheci o rapaz estirado num sofázinho com um livro na mão, tão concentrado em sua leitura. Há quanto tempo que eu não o via? Sua aparência tão cansada, tinha envelhecido anos em dias.
Pensei em correr depressa para algum canto.
A porta se abriu fazendo uma corrente de ar congelante passar por ela. Estremeci.
Matheus desviou seus olhos do livro e me viu. A dor em seu olhar veio logo após a surpresa. Eu não queria chorar, mas, já sentindo uma lágrima descendo, fui até ele.
Nem no meio de tantos livros fui capaz de escapar da dura verdade que uma ausência repetia infinitas vezes...
Matheus se levantou e me deu um longo abraço. Um abraço que dizia tudo o que não conseguíamos.
“Tem um livro que sei que você vai gostar...” Matheus disse assim que nos apartamos dos braços um do outro.
Ele pegou a minha mão e estava para me guiar quando senti alguém tocar meu ombro. Era um dos rostos desconhecido que me estendeu um livro.
Aprenda a superar a dor da ausência
Cruel. Não tinha como fingir. Eles tinham partido. Pra sempre.
***
Scott acertou em suspeita de onde o Ákyl deveria ter ido com a Colli. A prova disso foi ao chegarmos e termos sido surpreendidos com pancadas fortes contra nossas cabeças. Apagamos. Fui a última a acordar.
O lugar era horrível, com um cheiro forte de madeira pobre. Ainda estava tentando coordenar os pensamentos em minha mente. Que lugar era aquele? Foi a minha primeira pergunta e antes que eu pudesse fazer mais alguma - que também não saberia a resposta – Scott tocou meus pulsos, afrouxando a corda que os prendia.
“Shi. É a nossa chance de escapar agora. Tenta não fazer barulho...” Scott sussurrava, mas não fazia sentido. Nada fazia.
Escapar daquele lugar. Eu sentia medo, mas a minha mente era um branco, cada vez mais distante de qualquer razão.
“Vem, Mari...” Scott me apoiava em seus ombros. “Consegue ficar em pé, amor?”
Enxerguei algo atrás dele e precisei me concentrar um pouco para perceber que era a Kate, a Colli e o Matheus.
“Então vamos...” Scott ameaçou me guiar com paciência, mas um som de motor de carro o deixou em pânico.
“O que está acontecendo?” Perguntei aflita. Era o carro do Ákyl que tinha se ausentado por pouco tempo; soube depois. 
Ele colocou suas mãos ao redor do meu rosto, seu olhar... “Vou tirar você daqui. Só preciso que corra, você consegue?”

8 comentários:

  1. Não acredito que você conseguiu mesmo matar o Scott, sério. Ainda tenho a esperança de estar errada por você não ter escrito com todas as letras.
    Mas ELES partiram para sempre. No plural. Quem mais? Kate? Colli? Espero que ao menos tenha sido o nojento do Ákyl.
    Nada de beijo hoje. :(

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  2. C-H-O-C-A-D-A! =O
    Indo pra próxima, e querendo te bater!

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  3. Não esqueça que eu sei onde te encontrar Suh!!! ¬¬"

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  4. Partir para sempre... Nem sempre significa morte! Não quero acreditar que você daria uma de Yazawa!

    bjosmil *.*

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