Como ele podia dizer que queria a minha felicidade logo antes de dizer que me deixaria por outra? Eu queria falar para que ele fosse logo embora, mas não queria que ele fosse...
“Não entendo...”
“Ela precisa de mim...”
“Eu preciso de você!”
Levantei da cama e vi um Scott da qual não me orgulhava.
“Você tem tudo, Mari. Seus pais te amam e cuidam bem de você. Tem bons amigos pra confiar. Tem as melhores notas, vai conseguir passar na faculdade que quiser e ser o que quiser. Você tem uma personalidade forte e sabe se cuidar. Vai realizar todos os seus sonhos e vai ser muito feliz. Não vê isso? Você não precisa de mim.”
“O que isso tem a ver, Scott?! Eu te amo! Você... Fizemos planos! Por que você tem que ir atrás dela? Ela que quer ir embora. Isso não tem nada a ver!”
“Ela... Ela precisa de mim...”
“Você já disse isso! Seu mentiroso! Você que precisa dela, não é?! É você que não consegue ficar sem ela! Como sou burra!”
“Você não entende...”
“Claro que não! Me explica, Scott!”
“Se eu não for com ela... se algo acontecer com a Kate... Ela vai precisar de mim, de alguém...”
“Oh, meu Deus...” Era o mesmo que o Matheus sentia por ela. “Pelo menos assuma! Você a ama, Scott! Se vai embora, se vai me deixar, pelo menos seja sincero comigo e com você.”
“Eu amo a Kate, só não desse...”
“Não minta, por favor...”
“Mas eu te amo...” Ele estava confuso.
Percebi que já era noite. “Mas não o suficiente para ficar. Só espero que você tenha certeza do que está fazendo, Scott.”
Ele ficou em silêncio.
“Se você ama tanto assim a Kate é melhor você se apressar porque já anoiteceu.”
O que eu estava fazendo? Por que eu estava agindo daquela forma? Por que eu não o impedia?
Scott se aproximou de mim e aquilo fez a minha dor maior. Era adeus...
“Me perdoa... Faço sempre tudo errado. Quem sabe um dia eu não consiga me tornar o cara que você me faz querer ser... Eu pediria pra você me esperar, se eu acreditasse que fosse voltar, se não fosse ainda mais egoísta, se fosse pra te fazer bem. Não sei como vou conseguir sem você... Não vou estar mais aqui pra cuidar de você, mas nunca nem foi preciso, né... Não deixe que eu esteja errado nisso, por favor.”
Ele me olhava esperando resposta, mas não consegui dizer adeus... não consegui dizer tudo o que não tinha dito; as últimas palavras.
Scott abaixou os olhos e enquanto ele passava pela porta do meu quarto eu o odiava tanto e a dor era tão sem medida que desejei que ele sumisse mais rapidamente. Quando tive meu desejo realizado passei a me odiar e como quis correr atrás dele me humilhando, implorando para que ele ficasse.
Tapei minha boca com as mãos de forma exagerada, tentando abafar meu choro. Fui até a janela para vê-lo pela última vez. Scott andava apressado olhando para o chão.
Que sentimento era aquele tão conturbado dentro de mim? Que me fazia sentir como se morrer fosse menos doloroso, que me fez deixá-lo partir sem lutar...
Nunca jurei amor eterno... mas haveria o dia em que eu deixaria de amar Scott Meyer?
***
Consegui voltar a frequentar as aulas com a companhia do Matheus.Era fácil estar com o Matheus, sempre foi. Ele era o que eu precisava quando eu precisava. E naquele momento ele era tão desprezível de tristeza quanto eu. Poder ser infeliz com ele diminuía a minha dor sem que eu percebesse; não era algo que precisasse fazer sentido.
Os dias passavam. Foi tudo tão rápido. Num dia eu estava me rendendo ao Scott, no outro ele sumiu com o meu mundo... e me peguei tão cedo, tão sem esperar, rindo de um trecho idiota de algum livro com o Matheus.
Da mesma forma que acreditei que estaria para sempre com o Scott e errei, também errei quando acreditei que fosse ser impossível ser feliz sem ele.
Não... Não era pra tanto. Eu não estava radiante de felicidade, mas...
Matheus tocou a minha mão, daquele jeito dele tão natural, deixando o sorriso ir embora e emendando outro assunto. “Tem coisas que acho que nunca vou entender não importa o quanto reflita.”
“Você não é o único.” Lamentei.
“Assim... O que fizemos de errado?”
“De verdade?” Eu mesma respondi. “Acho que nada.”
Matheus me olhou curioso.
“Seguimos o nosso coração. Quando tentamos manter distancia e quando nos entregamos também. Mas amar não dá pra ser sozinho. O coração quer o que o coração quer.” Comecei a repetir os clichês que conhecia tão bem. “Sei lá, Math... Também não entendo. Essas são as respostas que encontrei pra me conformar.”
Ele riu. “Sabe o que me consola?”
Minha vez de ser curiosa.
Ele ficou calado, pensativo.
“Ué, não vai me dizer?”
Ele riu de novo. “É... acho que me perdi um pouco agora. Ia dizer uma frase de efeito, aquela que todos dizem sobre a vida continuar, mas não é bem isso.”
“O quê, então?”
“Ah... um momento que nem esse. Simples, né? Mas me sinto até meio bobo por ter me afastado das coisas boas da vida ao ter perdido algo que nunca nem tive.”
“Ah... Eles devem estar bem, né?!”
“Imagino que sim.”
“Vai ter algum dia em que vou pensar nisso sem querer socá-los com muita força?” Suspirei com um sorriso triste.
“Acho que vamos descobrir juntos...”
“É...”
“Ei, olha isso aqui também!” Matheus já soltava gargalhadas novamente com um dedo apontando para outra parte do livro.
Perguntava-me como estaria o Scott, mas no meu coração eu sabia que estava bem. Foi esse idiota que me ensinou lições que mudaram a minha maneira de ver a vida. Acho que nunca conseguiria ser como ele e encarar tudo sem medo de me arriscar, mas também nunca voltaria a ser aquela Mariana que temia tanto a vida.
O amor... bem, está aí o que existe de mais incerto e assustador, talvez por isso mesmo só ele seja capaz de nos transformar.
Eu que sempre fui tão certa de tudo não poderia ter sido mais errada. Mas como o Matheus ia dizendo “A vida continua”, e quem pode saber as lições que o amor ainda me trará...